Em breve, 70 anos do martírio das Irmãs, Filhas do Amor Divino
(continuação)
Numa noite de dezembro de 1941 minha mãe nos acordou: “Crianças, levantem-se! Rezemos! Esta noite podem vir também à nossa casa”. Minha mãe Jelka abriu a janela de cima. Ouvíamos os gritos, os gemidos e os desesperados pedidos de socorro. Todas as vozes eram femininas. Mamãe acordou a sra. Angelina no andar térreo: “Genda, levanta-te, veja! Estão massacrando as Irmãs; ontem à noite as trouxeram de Pale e já estão matando-as; daqui a pouco estarão aqui querendo lavar as mãos”.
Nossa casa ficava a uma distância de quase 200 metros do prédio que fora o quartel “Rei Petar Karadordevic”, de onde vinham aqueles apavorantes gritos de socorro. Ouvia-se tudo. Distinguíamos cada ruído.
Ouvíamos distintamente as palavras: “Jesus... José... Maria!” Estávamos no escuro e continuavam a chegar até nós aqueles gritos desesperados. Apesar de ser uma noite fria de dezembro, mamãe escancarou a janela.
Mamãe, de joelhos, rezava uma oração atrás da outra e uma invocação depois da outra. Tendo sido despertado no meio da noite, vesti-me rapidamente para uma eventual fuga pelo bosque que ficava de fronte a nossa casa, caso fosse necessário. Acordei também minhas três irmãs: Ivanka, Marija e Voronika. Imediatamente começamos a rezar e fazer invocações conforme o velho costume dos católicos croatas da Bósnia. Cada vez que aquelas pobres vítimas gritavam: “Jesus, salvai-nos! Maria e José ajudai-nos!”, nós repetíamos junto a elas: “Jesus, salvai-as!, Maria e José, ajudai-as! S. José, protejei-as!”. Os minutos passavam-se lentamente, como se cada minuto durasse uma hora.
Passaram-se anos, desde aquela noite pavorosa e ainda hoje, quando recordo Gorazde e o Drina, quando relembro os dias da minha infância, ouço os gemidos e os gritos daquela noite horrenda.
(continua)
(do livro AS MÁRTIRES DO DRINA, BAKOVIC, Anto, página 40,41)
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