Anto Bakovic (autor) |
(continuação)
Assim que acordei, pela manhã, corri ao rio Drina para ver o que havia acontecido. Eu conhecia um local, um muro, de onde era possível observar toda a área, do monte ao vale, e ver todos os cadáveres massacrados durante a noite. Quase todas as manhãs eu costumava ir ao Drina temendo encontrar em meio àqueles corpos o corpo do meu pai.
Nós não sabíamos que nosso pai havia conseguido fugir com milhares de “muhadzir” quer dizer, refugiados, passando pelo governo da Província e Montenegro, até chegar a Sarajevo. Temíamos que os soldados o tivessem capturado e degolado, junto com outros católicos e muçulmanos.
Estas coisas eu fazia escondido de minha mãe; ela, no entanto, sabia aonde eu ia e por isto me dava umas palmadas. Apesar disto continuava firme em dirigir-me ao Drina, logo ao amanhecer, para observar os numerosos cadáveres massacrados, procurando, com temor, o corpo do meu pai.
Também naquela manhã escalei o muro perto do rio Drina e voltei o olhar à direita, quer dizer, ao monte em direção à ponte, de onde vinham muitos cadáveres de homens. Olhando à esquerda, ou seja, para o vale, passei rapidamente a vista e vi, bem perto, quatro corpos de mulheres.
Aproximei-me e observei com atenção os corpos e os rostos. Para mim tratava-se de rostos desconhecidos. Duas eram jovens e tinham o corpo alvo como a neve. Eram robustas e de estatura baixa; as outras duas, segundo o meu critério de então, eram de meia idade.
O espetáculo era aterrador.
Todas as Irmãs apresentavam um ferimento abaixo do coração, exatamente no mesmo ponto onde Jesus foi ferido pela Lança.
A cena era terrível sobretudo para mim que, então, tinha exatamente dez anos e meio.
Anto Bakovic (criança) |
(Trechos da pag 55 a 58)
(continua)
postagem de Ir. Luzia Valladão
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