CINCO FILHAS DO AMOR DIVINO
MÁRTIRES
O principal objetivo deste artigo é a apresentação do
histórico da vida das cinco mártires. Não se tem a pretensão de aprofundar
aspectos geográficos e históricos da região sudoeste da Europa. Busca-se, sim,
contextualizar ainda que suscintamente a região na qual ocorreu o martítio das
05 Filhas do Amor Divino, chamadas Mártires do Drina, no decorrer da Segunda
Guerra Mundial, na Bósnia.
Além de vários outros países, a Bósnia, a Sérvia e a
Croácia, que aqui entram em questão, fazem parte da Península Balcânica. Este é
o nome histórico e geográfico para designar a região sudoeste da Europa, que se estende do leste da Sérvia até ao mar Negro. Esta Península é um dos principais
caminhos entre a Ásia e a Europa. É uma das regiões mais conturbadas da Europa,
e isso há muitos séculos. Uma série de conflitos marca a história da região.
A Serva de Deus Madre Francisca Lechner, Fundadora da
Congregação das Filhas do Amor Divino, recebeu do Arcebispo Josef Stadler o
convite para a abertura de uma Comunidade de Religiosas em Sarajevo, Bósnia.
Após os trâmites legais, a própria Madre Francisca e duas Irmãs partiram de
Viena, Áustria, no dia 24 de abril de 1882, e chegaram a Sarajevo no dia 28 do
mesmo mês.
Em Sarajevo as Irmãs trabalhavam em escolas e acolhiam
alunas internas e crianças órfãs. Rapidamente seu trabalho foi reconhecido e
ganhou o prestígio da população. A missão das Filhas do Amor Divino foi se
expandindo, em Sarajevo e arredores, com o trabalho abnegado e generoso das
Irmãs. Para atender a demanda da missão, foi necessário realizar novas
fundações.
Assim, em 1911, em Pale, localidade distante em torno
de 18 km, de Sarajevo, abriram um convento, “Casa de Maria”. Inicialmente esta
casa era destinada para o repouso das religiosas que trabalhavam no Instituto
São José, em Sarajevo, e para a recuperação de doentes. Entretanto, a “Casa de
Maria” foi recebendo credibilidade e se tornou famosa pelas obras de caridade
exercidas em favor de todos os necessitados que batiam às suas portas,
particularmente os vizinhos ortodoxos que a batizaram de “o hospital dos
pobres”. Pale era um corredor de muitos transeuntes, pessoas que iam e retornavam
de Sarajevo. Nesta casa também eram acolhidas pessoas, sem fazer distinção de
etnia, cultura, cor, religião, que vinham de diferentes lugares. Ali recebiam
alimentação e, não raras vezes, lugar para um repouso restaurador de energias
para então seguir a viagem.
A cultura ocidental e oriental - e seus respectivos
interesses políticos e econômicos - chocava-se seguidas vezes. A Segunda Guerra
Mundial foi particularmente trágica na Bósnia oriental. O Rio Drina estabelece
o limite entre as duas partes, que hoje divide a Bósnia da Sérvia. Houve um
conflito acirrado entre os sérvios e a população muçulmana e católica da Bósnia
oriental. Estes povos foram duplamente provados pelas tragédias; em primeiro
lugar, porque um grande número de civis inocentes perdeu a vida; em segundo,
porque os que sobreviveram ao massacre tiveram de abandonar o seu ambiente e
foram forçados a fugir.
Havia duas facções que se atritavam: os “četnik”- membros
voluntários da tropa armada do Estado da Sérvia. É um grupo irregular com conotação
terrorista contra os povos não Sérvios; os “uštasa” - croatos revolucionários da direita.
Aqueles multiplicavam os ataques às populações civis católicas e muçulmanas. Os
incêndios às vilas indefesas, as torturas mais desumanas e os assassinatos em
massa, o corte das linhas de comunicação,... faziam parte da ordem do dia.
Estes, apoiados pelas forças armadas de ocupação ítalo-germânica, instituíam, a
exemplo destes, os campos de concentração onde perderam a vida dezenas de
milhares de opositores ao regime, mas também civis inocentes.
Neste ambiente conflituoso, no qual um povo se rebela
contra outro povo, uma crença contra outra crença, uma vila contra outra vila,
um homem contra outro homem, e, por vezes, um irmão contra outro irmão - filhos
de uma mesma mãe, as Irmãs viviam e doavam a sua vida em favor do próximo e
experimentavam a dor do povo indefeso e inocente. Estão aí os dias do horror,
da morte, do sofrimento e das lágrimas.
As cinco Irmãs Filhas
do Amor Divino que formavam a comunidade “Casa de
Maria”, em Pale, foram: M. Jula
Ivanišević - croata,
nascida em 1893; M. Berchmana
Leidenix - austríaca,
nascida em 1865; M. Krizina
Bojanc - eslovena,
nascida em 1885; Irmã M. Atonija Fabjan - eslovena,
nascida em 1907; M. Bernadeta
Banja - de
origem húngara, nascida na
Croácia em 1912.
O ódio obscurece corações e consciências, e sem razão
golpeia a dignidade humana, a dignidade da mulher, da religiosa. Por isso, era
perigoso viver em Pale. Diante das sugestões de abandonar o povo, as Irmãs que
ali viviam decidiram permanecer no meio dele, para compartilhar sua sorte e
continuar a testemunhar-lhes o Amor Divino. Como era de se esperar, em 11 de
dezembro de 1941, os soldados da milícia “četnik” aprisionaram as Irmãs,
saquearam e incendiaram o convento.
Assim iniciou a via-sacra dessas cinco Irmãs. Elas
foram obrigadas a marchar, durante 04 dias e 04 noites, pelos caminhos da
montanha Romanija, com frio e na neve, sem veste adequada, com interrogatórios,
ameaças e ofensas. Irmã Berchmana, com 76 anos, não podendo prosseguir a
caminhada, foi levada a Sjetlina, onde se recuperaria do cansaço. Conforme o
combinado, ela deveria ser levada também para Goražde, a fim de se juntar ao
grupo de suas coirmãs, o que não aconteceu. Consta que ela foi morta no dia 23 de
dezembro, no bosque de Sjetlina.
As demais Irmãs tiveram de continuar a sua caminhada
até Goražde, percorrendo cerca de 65 km. Ali chegaram na tarde de 15 de
dezembro e foram levadas à caserna (2° andar do quartel), próxima ao rio Drina.
À noite, os “četnik”,completamente
embriagados, invadiram o seu quarto, com
intenção de violentá-las, pediram que renunciassem à vida religiosa. Em troca,
garantir-lhes-iam a vida, trabalho e graduação militar. Elas, porém, resistiram
fortemente e declararam que estavam prontas a morrer antes de trair a Deus e a
própria consagração.
Em defesa da dignidade e honrando o voto de castidade,
estas conseguiram escapar das mãos dos agressores. Irmã Jula, Superiora da
Comunidade, para evitar o estupro, abriu a janela e convidou as demais Irmãs a
segui-la. Com a invocação “Jesus, salva-nos!”, lançou-se no vazio e as outras
três fizeram o mesmo. Os soldados furiosos, sentindo-se derrotados, às pressas,
desceram as escadas até o local em que estavam caídas as Irmãs e, com
muitíssimos golpes de faca, mataram-nas. Depois, chutaram seus corpos até as
margens do rio Drina. Um soldado, também ferido por este grupo, viu como cada
uma delas, antes de morrer, fez o sinal da cruz!
As Irmãs Jula, Berchmana, Krizina, Antonija e
Bernadeta, conhecidas como as Mártires do Drina, verdadeiras missionárias na
Bósnia sofrida, serviram a Deus e aos pobres com generosidade e amor
desinteressado. Ao derramarem seu sangue, confirmaram a fidelidade a Deus. As
cinco Mártires são extraordinários modelos de fé a Deus e de verdadeiro amor
aos necessitados. O ato heróico dessas Filhas do Amor Divino teve o
reconhecimento oficial da Igreja. As servas de Deus Mártires do Drina serão
beatificadas em Sarajevo, Bósnia-Herzegovina, dia 24.09.2011. O sangue
derramado seja semente de novos cristãos comprometidos e de novas vocações. Que
elas intercedam a Deus pelas nossas necessidades.
Bibliografia consultada
HORVAT, Bernarda. A fidelidade cotidiana das Servas de Deus Mártires do Drina, 2011.
BAKOVIC, Anto. As Mártires
do Drina. Tradução de Luzia Valladão Ferreira. Natal: Proneves,
2000.
Nenhum comentário:
Postar um comentário