A Igreja Católica Romana é a única e
maior instituição no ocidente capaz de fazer contrapeso cultural e político ao
próprio ocidente. É a única instituição que a partir de sua maior liderança, o
Papa, pode mudar de maneira significativa o rumo do mundo. É o que tem feito o
Papa Francisco. Quando Bento XVI renunciou, o papa intelectual, se abriu um
enorme vácuo de certezas a respeito do que aconteceria a partir dali. A ideia
de crise ventilou-se por todos os cantos, como se a Igreja pudesse, naquele
momento de renuncia papal, ficar à deriva. Escapou a muitos, talvez a maioria,
de que a Igreja é uma instituição de 2 mil anos. Que o próprio ocidente é mais
ou menos uma invenção sua e, que tudo aquilo vivido, acontecido, experimentado,
transformado, morrido, renascido e recriado, nestes 2 mil anos, foi acompanhado
ao lado, por dentro, encima e junto pela Igreja Católica. Não há outra
instituição no ocidente com a bagagem, background e produção
intelectual a respeito de si mesma e, do mundo, como a Igreja, em suma, expertize.
A maneira como a sucessão papal se deu, calma e rápida; a escolha de um Papa
argentino, não europeu, inédito, num momento extremamente delicado de renuncia,
evidencia que a Igreja ao fazer isso tudo, não o fez desconhecedora dos
desdobramentos subsequentes. Certamente momentos como estes já foram
experimentados e vividos antes. O que quero dizer é que a Igreja tem case para
tudo. Um Papa Argentino, latino americano, jesuíta, outsider. Outsider num
mundo em crise, econômica, cultural, social e ecológica. Isto é, extremamente
oportuno. De repente o Papa chama Francisco, não dorme nos aposentos papais,
anda de carro popular e paga os hotéis onde se hospeda. De quebra, diz que
fumou maconha na juventude. Quando a Igreja católica brasileira e as evangélicas
se perdem num leilão sem fim por dinheiro, o Papa desnuda o banco do Vaticano,
afasta um Bispo alemão que vivia como um magnata e, discursa em nome dos pobres
e da simplicidade. Perguntado sobre os gays, responde: “quem sou eu para
julgar”. Desta forma, enquadra um dos maiores e mais barulhentos movimentos
militantes do mundo numa frase, deixando datado um dos mais importantes temas
surgidos na revolução cultural dos anos de 1960. Apontando que diante das
urgências globais, onde a própria civilização humana encontra-se em risco, a
demanda gay é apenas uma questão...O mesmo se dá em relação a maconha. Diante
do descalabro do uso de álcool e psicotrópicos e drogas químicas vendidas pela
indústria farmacêutica, maconha é um não tema. Isso tudo em poucos meses de
papado. E com isso apenas, recoloca indiretamente a força e o significado de
uma autoridade, seja ela qual for, quando revestida de credibilidade,
sinceridade e visão de mundo. Papa Francisco traz à tona o significado de uma
autoridade em seu maior sentido e, a importância dela em momentos como o que o
mundo vem vivendo; profundamente intoxicado pela corrupção e degradação
moral. O Papa Francisco chama a atenção de católicos e não católicos e,
isso provém de sua autoridade moral, que não quer dizer religiosa. E pra
finalizar, a mais importante autoridade moral do mundo hoje não provém de uma
instituição democrática, chamando atenção também para a crise profunda da
democracia ocidental.
Luciano Alvarenga
Postado por Victo Rudá, AAD.
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