Os questionamentos
em relação à mulher na Igreja começaram a tomar forma entre os fins do século
XIX e meados do século XX. Neste arco de tempo era comum ver mulheres atuando na Igreja,
ocupando-se com a manutenção do culto, a limpeza e ornamentação do Templo,
organização de procissões, terços, novenas, obras de misericórdia, escolas e
raramente em faculdades. Diversas são as que auxiliam os Padres em suas
dificuldades domésticas e de saúde. Em geral eram catequistas, participantes
das irmandades, ordens terceiras e movimentos como: Apostolado da Oração,
Filhas de Maria, e outras.
Em nossa Arquidiocese, Natal RN, Religiosas assumiram a função de Vigárias,
em Paróquias sem padres. São bem conhecidas as experiências em Nísia Floresta,
São Gonçalo, Taipu, além de outras atividades, que não eram comuns, na Igreja,
antes do Concílio Vaticano II. Já se cogitava sobre o sacerdócio ministerial para
as mulheres. Surgem então, novas questões que inspiraram e
continuam inspirando um notável repensamento sobre a mulher na Igreja, portando em si uma nova consciência de
Igreja.
Esta nova consciência
consiste, na concepção de que a Igreja é povo de Deus, formado por homens e
mulheres que, por sua vez, são criaturas de Deus. Desta nova realidade nasce o
conceito de sacerdócio comum dos fiéis e consequentemente a promoção do leigo
(as) na Igreja. As funções do
clero, dos leigos e leigas entraram num processo de nova compreensão. Mas isso está
longe de se traduzir em equidade no trabalho, na política, nas relações sociais.
Sobre o trabalho feminino, a baixa escolaridade era um agravante. Superado este
impasse, não se percebeu maiores alterações, as mudanças culturais são lentas e
as institucionais ainda mais. Evidentemente, alguns questionamentos incomodam, por exemplo: se o Batismo
confere a todos (as) a grande dignidade, a plena cidadania na Igreja, por que só
os homens podem receber o Sacramento da Ordem?
Mesmo assim, um olhar diferente surge nos horizontes da
Igreja. Começa-se a perceber que não é possível considerar o sacerdócio ministerial
feminino a única questão relevante ao tratar do lugar da mulher na Igreja. Sobretudo
considerando o retorno à vivência integral do Evangelho. Nos relatos do NT não
se encontra Jesus ordenando alguém como sacerdote. Sem maiores delongas
históricas, o fato é que até o III século não se falava em sacerdote, na
Igreja. O “Ordo” era uma instituição do império romano. Hoje, com os
posicionamentos do Papa Francisco, muitos (as) já se questionam: será
conveniente para a Igreja aumentar o peso do poder do clero, fortalecendo a
instituição que já possui tantos privilégios ajudando a preservá-los com
sacerdotisas?
Como disse o papa, trata-se de um grande desafio, os teólogos poderiam
ajudar a reconhecer melhor em que isto implica, em se tratando do possível
lugar da mulher nos diversos âmbitos da Igreja (Ev G. 104). A superação, deste
desafio, está nas bases das discussões e posicionamentos que requerem caminhos,
construídos com abordagens que supõem novas capacidades para um verdadeiro
diálogo. Urge redimensionar os persistentes modelos de um cristianismo
antifeminino que ainda vigoram. Embora na
Igreja as funções não dão justificação à superioridade de uns sobre os outros
(Ev G.104).
Passados pouco mais de 50 anos do Vaticano II, percebe-se
que a Igreja soube reconhecer a diferença de gênero. Embora, de um lado
considerando a atuação da mulher como uma contribuição de inteligência, mas de
outro com uma reserva de entusiasmo. Considere-se, por exemplo, a participação
das 23 mulheres convidadas como auditoras, as “Mães do Concílio”.
As 10 religiosas e 13 leigas nunca tomaram a palavra na
assembleia conciliar, não podiam, embora as suas contribuições tenham sido
determinantes para o capítulo IV da Lumen Gentium sobre
os leigos, para as partes da Gaudium et spes sobre a contribuição dos fiéis
na construção da cidade humana, para o decreto sobre o apostolado dos leigos e
também para muitos outros aspectos do debate conciliar (cfr. O resultado dos
estudos históricos, realizados, nas fontes,
pela teóloga e historiadora Adriana Valério, in Madri
del Concilio. Ventitre donne al Vaticano II).
Enfim, para todos(as), resta muita coisa para se aprender
e desaprender também, mas o fundamental para a mulher na Igreja (não só para mulher) é ser seguidora fiel
de Jesus e de sua forma de entender a vida.
Ir. Vilma Lúcia de Oliveira, FDC
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