Emaús, 03 e 04 de Abril
FIDELIDADE COMO EXPRESSÃO DO AMOR
Fidelidade à vida de oração
Cantai louvores ao Senhor, todas as gentes,
Povos todos, festejai-o!
Pois comprovado é seu amor para conosco,
Para sempre Ele é fiel! (Salmo 116)
O tema da fidelidade, comporta
memória e caminho a percorrer, assim mostra aonde estamos situados no hoje da
nossa existência. Então, vamos celebrar a memória do Amor Divino em nossa vida,
renovando a disposição para continuar no caminho que é Jesus mesmo!
A fidelidade denota a memória dos
eventos passados no percurso que fizemos, constatando que Deus não nos
abandonou. Nessa perspectiva, vamos considerar nossa vocação no conjunto da
História da Salvação, a começar com as vocações bíblicas, os Patriarcas, com
destaque para Abraão, Isaac, Jacó e o povo, que Deus preparou para receber o
Salvador. Deus é amor, por isso ele só pode ser fiel!
Na nossa história pessoal há passos
ainda por serem dados, nossa missão não está terminada, os caminhos estão
abertos. Mas, se “o caminho se faz caminhando”, revigoremo-nos para
mantermo-nos firmes e fieis nessa “ida”, nessa “saída”, a que nos convoca o
Santo Padre, Papa Francisco:
Na
Palavra de Deus, aparece constantemente este dinamismo de “saída”, que Deus
quer provocar nos crentes. Abraão aceitou a chamada para partir rumo a uma nova
terra (Gn 12,1-3). Moisés ouviu a chamada de Deus: “Vai! Eu te envio” (Ex
3,17). A Jeremias disse: “Irás aonde Eu te enviar” (Jr 1,7). Naquele “ide” de
Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão
evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova “saída”
missionária. Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho
que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair
da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que
precisam da luz do Evangelho. (EvangeliiGaudium,
Nº 20)
No texto da Exortação Apostólica acima, Papa
Francisco explicita a exortação que é de Jesus “ide!” (Mt 28, 19-20), desde o apelo
a uma pessoa (o chamado do Antigo Testamento) passando para um mandato
comunitário, dirigido às Instituições eclesiais, à própria Igreja (próprio do
chamado do Novo Testamento).
Na mesma exortação, o Santo Padre
adverte para a necessidade de não desvincular-se da memória (Tradição) em nome
da missão, nem tampouco tomá-la como heroica tarefa pessoal. Assim recomenda:
Embora
esta missão nos exija uma entrega generosa, seria um erro considerá-la como uma
heroica tarefa pessoa, dado que ela é, primariamente e acima de tudo o que
possamos sondar e compreender, obra de Deus. Jesus é “o primeiro e o maior
evangelizador”. Em qualquer forma de evangelização, o primado é sempre de Deus,
que quis chamar-nos para cooperar com Ele e impelir-nos com a força do seu
Espírito. A verdadeira novidade é aquela que o próprio Deus misteriosamente
quer produzir, aquela que Ele inspira, aquela que Ele provoca, aquela que
orienta e acompanha de mil e uma maneiras. Em toda a vida da Igreja, deve-se
sempre manifestar que a iniciativa pertence a Deus, “porque Ele nos amou
primeiro” (1Jo 4,19) e é “só Deus que faz crescer” (1Cor 3,7). Esta convicção
permite-nos manter a alegria no meio de uma tarefa tão exigente e desafiadora
que ocupa inteiramente a nossa vida. Pede-nos tudo, mas ao mesmo tempo dá-nos
tudo. (idem, 12)
E se é assim para
perseverarmos em fidelidade ao Senhor, como expressão do Amor, cuja totalidade
desdobra-se no lema fundacional, que pronunciamos todos os dias: “Tudo por
Deus, tudo pelos pobres, tudo pela nossa Congregação”, somos convidadas a
mergulhar na oração a fim de perscrutar qual é a vontade de Deus a nosso
respeito e a respeito da missão que ele nos confiar. Mas, principalmente somos
conduzidas a perguntar sobre a qualidade da nossa vida com Deus, que é Pai,
Filho e Espírito Santo. Para tanto sejamos fieis à oração!
1.1 A vida de oração
Oração é uma necessidade humana de cultivar
a harmonia com o sentido mais pleno da vida, prerrogativa que somente Deus pode
atender.
Antes de mencionar sobre a qualidade
dessa relação - homem e Deus - convém buscar compreender um ensinamento da
Antropologia Cristã, que apresenta-nos um modelo antropológico que
didaticamente esboça a dimensão noopsicossomática que somos. Veja a imagem
tridimensional abaixo, demonstrando as três realidades simultâneas de nós
mesmos: corpo, alma e espírito.
Em grego os termos
corpo, alma e espírito têm respectivamente a seguinte terminologia: soma, psique e nous. A reunião
das três palavras gregas noopsicossomática
denota as três dimensões do homem de modo unificado. Afinal já se perdeu muito
tempo com a fragmentação das realidades, inclusive a humana. É chegado o
momento de nos realizarmos integralmente, isto é, a formação humana precisa realizar-sede
modo integral, alinhando harmoniosamente corpo, alma e espírito.
Igualmente a saúde requer um equilíbrio
que comporte as três dimensões do homem (corpo, alma e espírito). Enfim, a
missão de cuidar da natureza confiada a nós pelo Senhor, requer antes de mais
nada o cuidado especial com o sujeito que cuida. Urge cuidar do humano para que
não se desumanize, pois a humanidade é um projeto em processo de
aperfeiçoamento. Em outras palavras, por mais diplomas e reconhecimentos que
tenhamos, não estamos prontos e precisamos cuidar da nossa formação humana
integral, abrangendo corpo, alma e espírito.
1.2
Convite à oração
A oração é um cuidado
essencial de realinhamento da vida noopsicossomática. Portanto, a oração deve
contemplar: corpo, alma (mente) e espírito.
Então orar é uma necessidade vital do homem
em busca de equilíbrio entre os sentidos, os sentimentos e o Sentido. Trata-se
da integração entre corpo, alma (mente) e espírito, sendo por isso necessidade
corporal, mental e espiritual. Pois:
A Corporeidade é o
modo que temos de acessar o exterior, o mundo lá fora objetivamente e
mecanicamente. Pelo mistério da Encarnação Jesus, o Filho de Deus assumiu em si
a condição corporal “Tu me deste um corpo”
A Anima
(alma/mente/psique) é a propriedade da vida no corpo que
impulsiona a intersecção entre a vida interior e exterior, marcada pela energia
da subjetividade. O Espírito Santo é a alma (anima, vida) da Igreja e cada fiel
é templo do Espírito Santo.
O Espíritoé a sede do sagrado
no homem. É espaço do Santo dos santos
em nós. Lugar que só a Deus é reservado, onde nem anjos, nem demônios têm
acesso (Edith Stein). É o Céu que trazemos conosco, o trono de Deus Pai, nossa
participação com Deus.
·
O
percurso de interioridade nessas três dimensões do Eu, é um caminho de
integração porque é o itinerário da UNIFICAÇÃO. Essas dimensões ganham
correspondência com as três vias da Ascese e da Mística:
Via vegetativa -
percurso da vida, no qual estamos mais apegados às necessidades básicas da vida
material e reféns das emoções, quando ainda nos arrastamos sobre a face da
terra como animais irracionais e plantas – preocupados com as necessidades
inferiores. Na espiritualidade é comparada com a fase do namoro
(principiantes). Poderíamos dizer que seria o tempo da Pastoral vocacional,
incluindo aspirantado e postulantado, quando estamos conhecendo a vida
religiosa.
Via iluminativa –
percurso intermediário da vida, no qual erguemos a cabeça em busca de
iluminação, quando passamos a ser guiados pela razão. Fase do noivado
(Proficientes). Aqui seria equivalente ao tempo do Noviciado até os Votos
Perpétuos, num processo de crescimento e amadurecimento da consagração.
Via unitiva – percurso final da
vida, quando nada mais nos satisfaz senão as verdades do Alto, numa busca de
identificação com o próprio Deus. Fase do Matrimônio (Perfeitos). É o que se
espera do passo marcado pelos Votos Perpétuos, coroado de martírio (via crucis) e os últimos tempos de vida
terrena em preparação ao Matrimônio perpétuo com o Senhor eternamente no Céu.
1.3 Caminhos da
oração
Verdadeiramente a oração na vida
humana só ocorre quando há envolvimento consciente. Passamos muito tempo meio
dispersos e parece que apenas alguns momentos estanques são dedicados à oração.
No entanto, o tempo vai passando e vamos nos dando conta que de fato “a oração
é para a FDC, o viver na presença de Deus” (Constituições FDC). Já não dá mais
para separar a vida com Deus da vida em oração. Ambas são uma mesma e só
realidade.
Mas é preciso aprender a priorizar e
respeitar “um tempo”, um tempo que não me pertence, mas que é de Deus. Este é
um exercício inicial para entendermos que todo o tempo é de Deus. Tudo é Kairós, tempo da Graça do Senhor. Esta é
nossa luta – as batalhas do Senhor, orando e vigiando.
Ocorre que há também o tempo das
securas da alma, os momentos de desolação, quando devemos aprender com místicos
como São João da Cruz e Teresa D’ávila que a oração não tem por parâmetro
sentimentalismos e sentimentalidades. Mas é uma atitude decidida perante a
vida, fazer opção por Deus.
Quantas vezes o desalinhamento entre
nossa vida exterior e interior gera desarmonia que atinge dentro e fora de nós.
Quantas doenças são desenvolvidas por desmedidada física (vícios/pecados
capitais), envenenamento emocional e angústias espirituais. Por essa razão
somos convidadas a nos munirmos de defesas que a vida religiosa guarda no baú
da sabedoria de quem vez da serenidade e do silêncio um caminho alternativo.
A conexão com a natureza e o caminho
da meditação nos devem predispor à contemplação. São condições iniciais para
adentrarmos na Palavra de Deus que é fonte de vida. Escutar a Palavra e
auscultar o que o Espírito Santo suscita requer silêncio interior que não tem
tanto a ver com o barulho ambiente.
O espirito de oração também nos
impulsiona a observar o mundo ao redor, perscrutando os apelos do Senhor sobre
o que Ele quer de nós.
E sem sombra de dúvida, a vida de
oração também nos defende dos perigos da alma e do corpo. Da vida de oração
advêm os alertas a nos indicar o momento de “entrar” e de “sair de cena”.
Quando é preciso fugir! Quantas vezes Jesus Cristo precisou sair sem ser notado
na imediação dos perigos? Basta lembrar da sua infância, quando Deus enviou um
anjo avisando a José que fugisse com a criança e a mãe para o Egito e lá
ficasse até a morte de Herodes (Mt 2,13-14).
E assim a Oração permeia a nossa vida
a fim de que tudo o que vivenciamos seja integrado ou não ao que somos,
mediante um discernimento sincero diante do Senhor, caminhando retamente à luz
de sua Palavra, que instrui e guia nossos passos até que possamos dizer como
São Paulo: “Já não sou eu que vivo. É Cristo que vive em mim”.
Ir. Aurélia Sotero Ângelo. FDC
Bíblia
de Jerusalém.
Liturgia
das Horas (Salmo 116)
RODRIGUES,
Afonso SJ. Psicologia da Graça. São
Paulo: Loyola, 1983.
STEIN,
Edith. A ciência da cruz. São Paulo:
Loyola, 1988.
TEPE,
Valfredo. Antropologia cristã: diálogo
interdisciplinar.Petrópolis: Vozes, 2003.
EXORTAÇÃO
APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM. Papa
Francisco. Nº 198. São Paulo: Paulinas, 2013.
Postado por Ir.Raimunda Ferreira.FDC
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