O Papa Francisco celebrou a missa na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, na Basílica de São Pedro, na manhã deste domingo (22/11), ocasião em que os jovens do Panamá entregaram aos jovens de Portugal os símbolos da Jornada Mundial da Juventude.
“A página que acabamos de ouvir
é a última do Evangelho de Mateus antes da Paixão: antes de nos doar o seu amor
na cruz, Jesus transmite-nos suas últimas vontades. Ele nos diz que o bem que
fizermos a um dos seus irmãos mais pequeninos, famintos, sedentos,
estrangeiros, necessitados, doentes e encarcerados, será feito a Ele”, disse o
Pontífice no início de sua homilia.
Segundo o Papa, “deste modo o
Senhor nos entrega a lista dos dons que deseja para as núpcias eternas conosco
no Céu. São as obras de misericórdia que tornam eterna a nossa vida. Cada um de
nós pode interrogar-se: coloco-as em prática? Ajudo alguém que não me pode
restituir? Sou amigo de uma pessoa pobre?”. “Eu estou ali”, diz Jesus, nos
pobres. Eu estou ali, diz Jesus também aos jovens que “procuram realizar os
sonhos da vida”.
Realizar os sonhos de Deus
neste mundo
Eu estou ali: disse Jesus,
séculos atrás, a um jovem soldado. Era um jovem de dezoito anos, ainda não
batizado, que cortou o seu manto e deu metade ao pobre, suportando a zombaria
de alguns ao redor. Esse jovem era São Martinho que teve um sonho e viu Jesus
com a parte do manto que ele tinha coberto o pobre. “São Martinho era um jovem
que teve aquele sonho porque o viveu, mesmo sem saber, como os justos do
Evangelho de hoje”, sublinhou o Papa. A seguir, Francisco disse: Queridos
jovens, queridos irmãos e irmãs, não renunciemos aos grandes sonhos. Não nos
contentemos com o que é devido. O Senhor não quer que restrinjamos os
horizontes, não nos quer estacionados nas margens da vida, mas correndo para
metas elevadas, com júbilo e ousadia. Não fomos feitos para sonhar os feriados
ou o fim de semana, mas para realizar os sonhos de Deus neste mundo. Ele
tornou-nos capazes de sonhar, para abraçar a beleza da vida. E as obras de misericórdia
são as obras mais belas da vida. As obras de misericórdia vão ao centro de
nossos grandes sonhos. Se você tem sonhos de verdadeira glória, não da glória
passageira do mundo, mas da glória de Deus, esta é a estrada; pois as obras de
misericórdia dão mais glória a Deus do que qualquer outra coisa. Ouçam bem
isto: as obras de misericórdia dão glória a Deus mais do que qualquer outra
coisa. Seremos julgados no final, sobre as obras de misericórdia.
Escolhas banais levam a uma
vida banal
“Mas, de onde se começa para
realizar grandes sonhos?”, perguntou o Papa. “Das grandes escolhas. Hoje, o
Evangelho também nos fala disto. No momento do juízo final, o Senhor se baseia
nas nossas escolhas. Quase parece que não julga: separa as ovelhas dos
cabritos, mas ser bom ou mau depende de nós. Ele apenas tira as consequências
de nossas escolhas, as traz à luz e as respeita. Assim a vida é o tempo das
escolhas vigorosas, decisivas e eternas.”
Escolhas banais levam a uma
vida banal; escolhas grandes tornam a vida grande. De fato, tornamo-nos aquilo
que escolhemos, tanto no bem quanto no mal. Se escolhemos roubar, tornamo-nos
ladrões; se escolhemos pensar em nós mesmos, tornamo-nos egoístas; se
escolhemos odiar, tornamo-nos furiosos; se escolhemos passar horas no celular,
tornamo-nos dependentes. Mas, se escolhermos Deus, nos tornamos mais amados a
cada dia e, se optarmos por amar, nos tornamos felizes. É assim, porque a
beleza das escolhas depende do amor. Não se esqueçam disso! Jesus sabe que, se
vivermos fechados e na indiferença, ficamos paralisados; mas, se nos dedicarmos
aos outros, nos tornamos livres. O Senhor da vida nos quer cheios de vida e nos
dá o segredo da vida: só a possuímos doando-a.
“Mas existem obstáculos que
tornam as escolhas difíceis: com frequência, são o medo, a insegurança, os
porquês sem resposta”, disse ainda o Pontífice, ressaltando que “o amor pede
para ir além, não ficar agarrados aos porquês da vida, esperando que chegue do
Céu uma resposta. Isso não. O amor impele a passar dos porquês ao para quem: do
porque vivo, ao para quem vivo; do porquê me acontece isto, ao para quem posso
fazer o bem. Para quem? Não só para mim; a vida já está cheia de escolhas que
fazemos para nós mesmos: ter um diploma, amigos, uma casa; satisfazer os
próprios interesses e passatempos. De fato, corremos o risco de passar anos a
pensar em nós mesmos, sem começar a amar”.
Escolher o que lhe faz bem
Segundo Francisco, “não existem
apenas as dúvidas e os porquês a insidiar as grandes escolhas generosas;
existem muitos outros obstáculos”.
Existe a febre do consumo, que narcotiza o coração com coisas supérfluas.
Existe a obsessão pela diversão, que parece o único caminho para fugir dos
problemas, quando, ao invés, é apenas um adiamento do problema. Existe a
fixação nos próprios direitos de reivindicar, esquecendo o dever de ajudar. E,
depois, há a grande ilusão do amor, que parece algo a ser vivido ao som de
emoções, quando amar é principalmente dom, escolha e sacrifício. Sobretudo
hoje, escolher é não se fazer domesticar pela homogeneização, é não se deixar
anestesiar pelos mecanismos de consumo, que desativam a originalidade, é saber
renunciar às aparências e à exibição. Escolher a vida é lutar contra a
mentalidade do usa-e-joga-fora e do tudo-e-imediatamente, para orientar a
existência rumo à meta do Céu, rumo aos sonhos de Deus. Escolher a vida é
viver, e nós nascemos para viver, não para sobreviver. Isto foi dito por um
jovem como vocês [o Beato Pier Giorgio Frassati]: “Eu quero viver, não
sobreviver”.
“Todos os dias se apresentam
muitas opções no coração”, disse ainda o Papa, dando um último conselho para se
treinar a escolher bem.
Se olharmos dentro de nós,
veremos que muitas vezes surgem duas perguntas diferentes. A primeira: o que me
apetece fazer? É uma pergunta que engana frequentemente, porque insinua que o
importante é pensar em si mesmo e satisfazer todos os desejos e impulsos que me
vêm. Mas a pergunta que o Espírito Santo sugere ao coração é outra: não aquilo
que lhe apetece, mas aquilo que lhe faz bem. A escolha diária situa-se aqui:
escolher entre o que me apetece fazer e o que me faz bem. Desta busca interior,
podem nascer escolhas banais ou escolhas vitais, depende de nós.
Via Vatican
News
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