Antes de tudo apresento um grato reconhecimento diante da outorga desta homenagem.
75
anos de Missão como Província. Qual é o sentido, o significado mais profundo,
que está no âmago desta comemoração? A resposta supõe uma história impulsionada
pela memória de algo que é muito mais do que a própria história. Trata-se da
força que se esconde nas fragilidades humanas.
A
memória deste algo compreende três aspectos que em si são convergentes: o
primeiro é o estro e a chave de compreensão da força que nos impulsiona não
obstante as fragilidades históricas; o segundo um contexto que aponta para o
início da Congregação, berço da missão brasileira e o terceiro a dinâmica dos inícios desta missão, no Brasil, apenas, até a ereção
canônica das Províncias brasileiras objeto da atual comemoração.
1-
As congregações religiosas não são simples realidades históricas, são também
figuras místicas e escatológicas. A história de cada uma revela, nas
entrelinhas da sucessão dos fatos, a força da fragilidade. Realidade que aponta
para algo que transcende a realidade humana.
Como dizia João Paulo II: “as congregações, em meio aos mais vulneráveis,
manifestam a sua profecia como sinal do Reino de Deus”.
Por
isso são também figuras místicas e escatológicas, adaptam-se à história numa
constante atitude de escuta às inspirações dos seus fundadores e fundadoras. Homens
e mulheres, normalmente carregados de uma forte carga de utopias e de sonhos
que se instalam no coração e na alma da
Instituição. Mas, em geral no seu processo de adaptação à realidade histórica,
corre o risco de se distanciar desta fonte vivificadora. Pois na medida em que
o tempo passa, esta especial memória, torna-se distante, mais longe e por vezes
até cai no esquecimento. E para evitar
este esquecimento as comunidades procuram adotar uma postura de certa escuta.
Esta
especial escuta visa atualizar, no tempo, a tradição memorial para assegurar a nossa
identidade de comunhão com Jesus o missionário por excelência, o primeiro Filho
do Amor Divino, a garantia principal para se manter viva e criativa esta memória. Este é o sentido
mais profundo das comemorações destes 75 anos da missão como Província.
Este
é o estro que está no íntimo da história da Congregação das Filhas do Amor
Divino, que por sua vez materna as duas Províncias brasileiras: a Província
Nossa Senhora da Anunciação, atualmente, com sede e Santa Maria, no coração do
Rio grande do Sul e a Província Nossa Senhora das Neves, atualmente, com sede em
Emaús, na BR 101, km 7, Parnamirim. E como isto tudo começou e se instalou na
história?
2 –
Tudo começou com uma mulher simples e muito
especial: Francisca Lechner (1833 -1894), alemã, natural de Edling, na
Baviera. Uma mulher que fez acontecer a
utopia que alimentava seus sonhos desde criança. Procurou responder aos apelos
das pessoas mais frágeis de sua época, a jovem mulher imigrante, vítima dos
impactos das revoluções em curso no século XIX.
Este projeto foi efetivado na Áustria, em
Viena e deu origem à Congregação das Filhas do Amor Divino, no dia 21 de
novembro de 1868.
Aos
poucos e superando todas as dificuldades, Madre Francisca Lechner, inaugura
Institutos Marianos, espalhando-os em diversas regiões do Império austro-húngaro.
Estes institutos viabilizavam, de alguma forma, a superação dos esquemas de
exploração da mão de obra feminina de então. Estes inícios são, para nós, as
sementes de esperanças semeadas que continuam desabrochando na utopia de novos
espaços e renovadas esperanças, até hoje.
Entre 1868 e 1920 surge uma ponte missionária entre as fontes das
origens históricas das Filhas do Amor Divino e o Brasil, dando origem à
fundação da missão brasileira.
No
processo do crescimento, da Congregação, no governo da segunda Superiora Geral,
Madre Ignatia Egger (1844 – †1928), surge outro enunciado utópico e a execução
do um novo sonho que partiu da Ir. Teresina Werner (1874 †1946), o de abrir a
Congregação para a missão além das fronteiras da monarquia danubiana, numa
época que isto parecia impossível. Este enunciado
a fez guardiã do ideal missionário das origens.
3 -
Em 1920, portanto, a Congregação das Filhas do Amor Divino chegou
ao Brasil, fruto dos insistentes pedidos de Ir. Teresina Werner. A Madre Geral Ignatia
Egger, depois de muita hesitação e relutâncias, permite que as Filhas do Amor
Divino atuem também no Brasil.
Depois de longa e sofrida espera, Ir.
Teresina Werner e Ir. Constantina Resch (1878 - †1952), em junho de 1920,
desembarcaram em São Paulo no Porto de Santos, em seguida viajam para o
primeiro campo de ação, a colônia alemã de Serro Azul, hoje, Cerro Largo, no
Rio Grande do Sul. Foram acolhidas, na
nova fundação, no dia 19 de Julho de 1920. De 1920 a 1925, as comunidades
cresceram com a chegada de mais Irmãs, inclusive com vocações nativas.
Em
1925, a convite do Bispo de Natal D. José Pereira Alves (1922 -1928),
Ir.Teresina Werner com as demais Irmãs, decidem por uma fundação no Rio Grande
do Norte. No dia 11 de outubro de 1925 chegaram a Natal as Irmãs: Teresina
Werner, Constantina Resch, Benjamina Thuma, Priska Hamala, Berchmana Hardegg,
Josefina Gallas, Anna Everling, Magdalena Mumbach e Marta Steffens. Foram
designadas para Caicó onde tomaram posse, no dia 25 de outubro de 1925,
efetivando a fundação do Colégio Santa Teresinha.
Até
1938 todas as atividades desenvolvidas no Brasil, dependiam do Governo Geral, que
era sediado em Viena. As dificuldades de comunicação também por causa da
situação caótica que envolvia as nações, o controle administrativo destas
comunidades era inviável. Devido aos impasses gerados a Madre Kostka Bauer,
Superiora Geral da Congregação, na época, precisou assumir uma posição mais
prática. E no Capítulo Geral que se reuniu nos dias 26 e 27 de Julho de 1938
decidiu pedir à Santa Sé a licença para criar duas novas Províncias da
Congregação, no Brasil, uma no Nordeste e outra no Sul.
Diante
das justificativas apresentadas à Santa Sé, a solicitação foi atendida em forma
de Decreto datado de 19 de dezembro de 1938. Assim nasce a missão como
Província. De certa forma é uma espécie de emancipação do
Governo Geral. Por isso, celebramos seu 75 anos de criação.
A Madre Kostka Bauer fez a comunicação
através de uma circular, que chegou, pelas mãos da Ir. Aquilina Eibel vinda da
Áustria, acompanhada por mais três outras jovens Irmãs destinadas como ajuda para
a missão no Brasil, nos idos de 1939; eram as Irmãs: Ir. Armela Lechner,
Ir.Hedwiges Witkowstka e a Ir. Fidélis
Weninger.
Nesta correspondência datada de 19 de
janeiro de 1939 é feita a comunicação e a nomeação das primeiras Provinciais:
Irmã Christina Wlastnik, Provincial para o Nordeste do Brasil, com quatro
estabelecimentos sob a sua jurisdição: O Santa Teresinha, em Caicó, Nossa
Senhora das Vitórias em Assu, Colégio Nossa Senhora das Neves, em Natal e o
Colégio Cristo Rei em Patos na Paraíba. Foram também nomeadas as três primeiras
conselheiras provinciais: a 1ª Ir. Josefina Gallas, a 2ª Ir. Imaculada Widder e
a 3ª Ir. Helena Trunk. Madre Christina
governou de 1939 a 1950. E como Provincial para o Sul do Brasil a Irmã Rigalda
Lepka, com cinco casas sob a sua jurisdição, teve seu período de mandato igual
ao de Madre Christina. As assistentes de Madre Rigalda Lepka eram: 1ª Ir.
Cantalícia, 2ª Ir. Digna e a 3ª Ir. Jaromira.
Irmã Rigalda governou de 1938 a 15 de abril de
1950.
A
missão cresce e hoje a nossa Província N.
Sra das Neves é dinamizada por 168 irmãs,
distribuídas em 21 comunidades, espalhadas pelo RN, PB, Ceará, Alagoas, Bahia,
Minas, Brasília e Rj, de certa forma tb em Uganda, na África, nos Estados Unidos e na Europa, atuando em
escolas, faculdades, paróquias e pastoral social. E a Província
N. da Anunciação com 213 Irmãs e 33 comunidades espalhadas pelo RS, PR, DF, GO,
PA, Equador, Roma. Fiéis à herança carismática da fundadora, torna visível o
amor de Deus através da pastoral da educação e da saúde, atendimento de
paróquias e comunidades eclesiais em situações e regiões missionárias, em obras
sociais, buscando construir redes de solidariedade, economia solidária e
cooperativismo e outros espaços alternativos. Na missão ad gentes, esta
província está presente na África, Uganda, no Equador e no Haiti.
Como
nada disso ainda foi concluído, a Congregação continua sua caminhada, atuando em
vários Estados do Brasil, em várias cidades do Estado do Rio Grande do Norte e do Rio Grande do Sul. Mesmo envolvida numa história mesclada de
limites, fragilidades e condicionamentos humanos, são impregnadas de
evangélicas utopias geradoras daquela Força que as fragilidades tentam esconder.
Assim, comemoramos 75
anos da missão como Província. Em comunhão com a Igreja, a Congregação, com o
Governo Geral, mas com um pouco mais de autonomia, resgatando as origens,
celebrando a memória, atualizando a missão, agradecendo profundamente e ao
mesmo tempo homenageando, carinhosamente, a todos que ajudaram a construir esta
história.
Muito obrigada!
Ir.
Vilma Lúcia de Oliveira, FDC
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