Meu nome como Religiosa é Irmã M. Judith Vieira de Farias. Pertenço à Congregação das FILHAS DO AMOR DIVINO, fundada na
Áustria por Madre Francisca Lechner.
Nasci
na pequena Vila de Desterro, então município da cidade de Teixeira, no Estado
da Paraíba. Meu pai era agricultor e minha mãe costureira. Sou a quinta filha
numa prole de oito filhos que meus pais criaram com amor e dedicação.
Formávamos uma família pobre, mas, profundamente cristã, unida e feliz.
Minha
mãe cada ano tinha um filho. Após o nascimento do 5º filho, nasceu a pequena
Marluce, que faleceu vítima de coqueluche aos dois anos de idade, doença que
tem hoje cura mais fácil, porém, à época, era bastante perigosa e vitimava
muitas crianças. Dois irmãos meus também faleceram em tenra idade. Depois
continuou nascendo meninos e meus pais desejavam outra menina, provavelmente
para substituir Marluce. Então, fizeram uma promessa (não sei a qual santo),
para que nascesse uma menina. Na noite de Natal de 1935, na hora da Missa, eu
nasci. Não haveria data melhor para eu nascer: dia em que se comemora o
nascimento de Jesus Cristo, nosso Salvador. Fui batizada no dia 5 de fevereiro
de 1936, recebendo o nome de Maria e logo em seguida consagrada a Nossa
Senhora, como era costume na época. Eu até tinha uma madrinha de Consagração. Minha
mãe me chamava “minha gaçuda Nita”(gaçuda=graciosa) e assim fiquei sendo
chamada por todos da família: Nita.
Depois
nasceu Pedro e em breve minha mãe estava grávida outra vez. Não sei por qual
motivo, as pessoas que a conheceram diziam que ela sempre afirmava: “Eu vou
morrer neste parto.” Em janeiro de 1939, minha mãe começou a sentir os sintomas
para o parto de um irmão que faleceu em seu ventre. Foram vários dias de
sofrimento e a criança não nascia. Não havia socorro médico lá e as parteiras,
em número de 7, estavam na nossa casa, dizendo ao meu pai que não havia
necessidade de ir em busca de médico em Teixeira (a 3 quilômetros de
distância), porque a criança nasceria em breve. Quando minha mãe teve febre,
meu tio foi em busca do médico,que, ao chegar e verificar o quadro, disse para
meu pai: “Você me chamou tarde demais, a criança já está morta há 7 dias.” Foi
nesse parto que a família perdeu, ao mesmo tempo, um irmão e minha mãe; a esposa
e um filho (para nosso pai). Portanto, aos 3 anos de idade, fiquei órfã. Meu
irmão de apenas 11 meses – Pedro foi para a casa do meu avô e eu fui para a
casa de minha tia e madrinha de batismo, Luzia Alves de Farias.
No processo do
parto, minha mãe, ao ficar doente e sentir a morte se aproximando, chamou meu
pai e pediu que ele cuidasse de mim e não me deixasse sofrer. Ela também tinha
ficado órfã ainda recém nascida e havia sofrido muito da madrasta. Sua mãe
também faleceu de parto. Meu pai procurou cumprir o que a ela prometera, sempre
me protegendo.
Logo depois da
morte de minha mãe, meu pai começou a nos preparar para uma futura substituta
de nossa mãe. Ele dizia constantemente: “Sua mãe estava muito cansada e Nosso
Senhor a levou para o céu, mas ela vai enviar uma pessoa para substituí-la, a
qual vocês chamarão de “mamãe”, pois ela será a substituta de sua mãe” e o meu
irmão mais velho repetia isto para mim.
Meu pai
casou-se um ano depois, com uma jovem de 15 anos, criada com os avós e educada
pelo Padre da Paróquia de Teixeira, que fundou uma escola em Desterro e dava
assistência espiritual, aulas de formação e boas maneiras semanalmente na
escola. Ela, apesar de muito jovem, foi sempre maravilhosa, cumprindo fielmente
os deveres de esposa e mãe. Meu pai e ela eram muito unidos e felizes. Continuamos
sendo uma família feliz.
Aos 7 anos fiz
a Primeira Eucaristia. Meu pai me preparou cuidadosamente para este dia. Todas
as noites, após o jantar ele me dava lições de catequese e doutrina, não lembro
por quanto tempo. O certo é que fui preparada por ele para o meu primeiro
encontro com Jesus Eucarístico.
Meu pai teve
apenas 3 meses de escola, mas, sozinho, buscou sua própria formação
intelectual. Lia muito e estimulava todos nós à leitura, assinando revistas,
jornais e comprando livros bons para a nossa formação. Ninguém falava errado na
minha casa, porque cada um corrigia o outro quando isto acontecia. Tínhamos a
revista “Seleção”, muito apreciada por todos nós, livros, jornais e revistas
que ele solicitava da Editora Vozes de Petrópolis, RJ.
Aos 12 anos
nasceu minha primeira irmã, filha de meu pai e minha madrasta. A alegria que
tive com seu nascimento é indescritível. Dois anos depois, nasceu a minha
segunda irmã.
E assim fui
crescendo e desenvolvendo o desejo de me dedicar à Vida Religiosa.
Desde a minha
mais tenra infância, pensava seriamente em um dia dedicar minha vida ao Senhor.
Eu tinha uma tia Religiosa da Congregação das Irmãs de Sta. Catarina de Sena.
Aos 12 anos outros pensamentos vieram à minha mente e eu abandonei um pouco esta
idéia. Tive namorados, mas no estilo da época: somente conversa, pois as moças
tinham uma consciência muito forte da necessidade de guardar sua integridade
perante a sociedade de Desterro que vigiava e velava pelas suas jovens. Para
nós, isto era algo natural,
No dia que
completei 15 anos, meu irmão Juvenal, que era meu amigo mais fiel, muito
inteligente, uma voz lindíssima, após retornarmos das festividades natalinas da
Vila, teve uma parada cardíaca (assim penso), ou aneurisma cerebral (não
sabemos bem), falecendo, aos 21 anos de idade, após várias horas de intensa
agonia, com fortes convulsões e muito sofrimento para toda a família. Ele
desejava entrar na Ordem dos Franciscanos, mas não conseguiu o apoio
necessário. Este acontecimento chocou-me profundamente. A partir daí, fui
profundamente tocada pelo Senhor e decidi consagrar minha vida a Ele para
sempre. Escrevi para minha tia freira expressando meu desejo. Recebi a resposta
confirmativa, mas meu pai se recusou a permitir, porque tinha mágoas da família
de minha mãe que o acusava como responsável pela sua morte. Mas a decisão
estava tomada e eu não mais voltei atrás.
Depois de
muito diálogo e busca, o mesmo sacerdote que colaborou na formação de minha
madrasta, conseguiu uma vaga no Colégio Cristo Rei em Patos-PB, dirigido pelas
Filhas do Amor Divino. Lá fiquei interna, mas como meu pai não podia pagar meus
estudos e muito menos internato, trabalhava ajudando às Irmãs. Lá eu tinha
várias primas ricas estudando internas, algumas delas minhas colegas de classe.
Após dois anos
fui para Natal, iniciando lá minha formação como Candidata, Postulante, Noviça,
etc. Foi assim que iniciei minha consagração a Deus e me preparei para meus
primeiros Votos Religiosos.
Meu pai veio de
Desterro para participar da solenidade dos meus Primeiros Votos. Foi a primeira
vez que ele saiu daquela região onde morava.
Estando na
Congregação, após um breve intervalo, continuei meus estudos. Sempre fui muito
estudiosa, sempre conseguindo os primeiros lugares. Fiz o curso de Pedagogia,
depois Teologia na Universidade Católica de Petrópolis, Teologia Maior no
Seminário da Prainha em Fortaleza, juntamente com os Seminaristas. Sempre tive
um carisma especial para ensinar e fui sempre muito querida dos alunos.
Depois de um
longo período como professora, fui para a Inglaterra colaborar com as Irmãs que
são poucas naquela Província e necessitam que outras Províncias enviem Irmãs
para ajudá-las a continuar no seu apostolado. Lá tive experiências lindas, participando
de um movimento com os jovens nas diversas escolas, junto com outros
Religiosos, seguindo um Programa de evangelização e formação intenso, durante 3
anos, na região dos mineiros, onde me senti muito em casa. De lá fui para Roma,
onde fiz o Curso de Teologia Espiritual na Universidade do Teresianum,
pertencente à Ordem dos Carmelitas. Foi um período pleno de graças e bênçãos do
Senhor.
Após vivenciar
esta experiência, retornei ao Brasil, onde assumi a Direção da Escola Cônego
Monte em Natal. Após 6 anos, fui novamente para a Inglaterra, onde permaneci
por 3 anos na região de Norfolk. Lá fundei o grupo dos Associados Amor Divino e
ensinava Religião nas classes dos anos 7,8 e 9. Foi uma experiência um pouco
difícil para meu jeito de ser, uma vez que lá é a região da Rainha e o povo é
bem mais aristocrático. Eu me sinto melhor no meio dos simples.
De volta outra
vez ao Brasil, fundei os Associados do Amor Divino e a Juventude Amor Divino,
um movimento de leigos que procuram viver a espiritualidade e o carisma de
Madre Francisca Lechner, fundadora da Congregação das Filhas do Amor Divino.
Em 2009,
estive por 3 meses nos Estados Unidos realizando um trabalho em uma de nossas
Províncias – a Província São José – sobre nossa experiência com a Pastoral da Juventude
e com a Pastoral Vocacional.
No momento sou
Superiora da Comunidade Nossa Senhora das Vitórias em Assu, coordeno o
movimento que fundei em toda a Província Nossa Senhora das Neves e ensino
Antropologia Teológica na Faculdade Católica da PRONEVES.
Assumo tudo
que me é confiado com muita responsabilidade, amor e alegria. Sinto-me feliz
falando de Jesus Cristo e da minha Congregação. Sou muito solicitada para
pregar retiros, fazer palestras, dirigir encontros etc.
Sinto-me
querida das Irmãs, dos alunos de todas as idades e classes sociais.
Desde a morte
do meu irmão, Jesus passou a ser o único da minha vida e a Ele peço a graça da
perseverança até o final de minha vida.
Quero
conservar a minha juventude interior e a minha alegria de viver sempre até o
dia que Ele me chamar, quando desejo ir ao Seu encontro sorridente e feliz,
consciente de que realizei o Projeto que Ele determinou para mim.
Assu, 25 de
dezembro de 2013.
Festa do NATAL DO SENHOR
Irmã M. Judith
Vieira de Farias,FDC
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