Uganda: 15 anos de atividades
das Irmãs do Amor Divino
Há
mais de 15 anos como missionária no Uganda, a Irmã Alaide Mior, gaúcha de Iraí,
da Congregação das Filhas do Amor Divino, vive numa comunidade, em Ruskooka, na
arquidiocese de Mbarara, distante da capital em torno de 500 km.
Sua
atividade missionária sempre foi na Paróquia São Francisco, onde os freis
franciscanos,como comunidade internacional de missionários, dedicam sua vida
aos mais abandonados da humanidade e vivem uma pobreza extrema. Conta a Irmã
Alaide: “cheguei em outubro de 1998 e até janeiro de 2013, trabalhei como
Enfermeira. Era chamada a "dotora” da região, porque era a única pessoa
habilitada para atender os doentes. Rushooka é um pequena aldeia, entre vales e
montanhas, onde a maior riqueza são as crianças. Na época, não havia água,
eletricidade, carro, moto, telefone, jornal, rádio e muitas outras coisas.
Inicialmente moramos numa pequena casa, entre o povo na vila, comendo e vivendo
como eles”.
Passados
13 anos, a situação melhorou. Como fala o nosso Arcebispo, Dom Paulo Bakyenga:
"Agora em Rushooka, corre leite e mel. Enfrentando muitos desafios, mas
animadas pelo único desejo de trazer ao povo sofrido, uma melhor qualidade de
vida, humana e espiritual, hoje vemos o nosso objetivo alcançado.
Agora
continuamos a apoiar e sustentar o povo na caminhada”. O vilarejo conta com
água, trazida das montanhas, eletricidade, Unidade de Saúde cujo Laboratório é
a referência para toda a região, especialmente para o tratamento da AIDS; casa
de moagem; Centro da Mulher e trabalho com órfãos. As duas comunidades
missionárias, a dos Franciscanos e a Congregação das Filhas do Amor Divino, são
os "marcos referenciais convergentes" para todo o povo.
São
muitos os fatos acontecidos, mas menciona apenas alguns relativos à saúde. Faz
questão de retratar alguns fatos vividos
no dia-a-dia, para vermos sua real existência: “As famílias diariamente trazem
seus doentes graves, em padiolas, carregando-os entre quatro pessoas, subindo e
descendo montanhas, caminhando, muitas horas. Chegam na Unidade de Saúde sem as
mínimas condições: com fome, sem dinheiro, emagrecidos, mas com grande
esperança
de
que ali eles, encontrarão alívio e serão acolhidos.
Algumas
vezes, os mais favorecidos, trazem uma cana de açúcar ou um ovo... e, se
ajoelham na frente da gente para entregar a gratificação, rezam e agradecem de
mãos postas. A maioria do povo faz uma refeição por dia, ali pelas 15 horas, a
qual consiste num prato de banana, chamada matooke, que é cozida e esmagada,
sem nada, feijão ou pocho, que é um mingau de farinha de milho, também sem nada
misturado e sem sal. Em época de seca, eles se alimentam com folhas verdes, que
chamam de Dodô que colhem onde as encontram. São cozidas somente na água.
Carne, só quem tem melhores condições,.Fazem economia durante o ano para
comprar um pouquinho de carne para o Natal e para a Páscoa. Uma das maiores
alegrias deles é poder comer um pedacinho de carne. Nós, Irmãs, compramos dois
quilos, no final de semana e a dividimos, entre 23 pessoas”.
Alegrias e dificuldades
Mas
a vida não é um mar de rosas. Ir. Alaide aponta as principais dificuldades que
enfrentam a cada dia. A principal delas é ver tanta gente morrendo por falta de
recursos. Aí vem a corrupção governamental; a falta de maiores informações
entre o povo; o alto índice de pessoas infectadas pela AIDS e a negação de
ajuda por parte de pessoas com condições financeiras e de Instituições para
sustentar os missionários que se dedicam inteiramente a missão.
A
missionária aponta a força física e espiritual que nos sustenta o duro trabalho
do dia. Ressalta o espírito de Ação de Graças do povo pela vida. Também quando
se recebe alguma ajuda financeira para ajudar a sustentar a missão é uma
alegria para todos. Mas sobretudo a proteção de Deus e sua presença sensível no
meio do povo sofrido. Por isso, o bem que se consegue realizar a cada dia
constitui uma realização para toda a comunidade.
Escolha de
Deus
Penso
que não foi escolha minha esta vocação para a Vida Religiosa. Senti que foi Deus
que me escolheu e me enviou, ao ser lançado o convite para toda a Congregação,
para ser missionária na Africa. No Brasil, onde trabalhava, nada me faltava e
era feliz. Aqui, com todos os desafios da missão nunca me senti infeliz ou com
vontade de retornar à minha pátria. Compreendo que em qualquer lugar posso ser
missionária, fazendo aquilo que Jesus fazia. Por isso para mim ser missionária
é seguir Jesus, o missionário do Pai, e fazer o que Ele fazia junto ao seu povo
da época. Me apoio em Jesus Cristo para viver minha fé, assim como Jesus se
apoiou no Pai até sua morte na cruz”.
Esta comunidade do Amor divino está em
constante contato com a Congregação, através dos meios de comunicação. Mas para
Ir. Alaide “convicta de que fui escolhida e enviada, deixei tudo por amor a missão,
mesmo com o coração sangrando. A experiência me faz sentir que as relações, os
laços de amizade e afeto se tornaram muito mais fortes e profundos e de qualidade, sem muita comunicação, mas com
muita oração e unidade”.
Mestra das Noviças
Hoje a
atuação de Ir. Alaide é outra, sem deixar de ser missionária. “Desde Janeiro de
2011 fui
transferida
para a Casa de Formação, que fica há 100 kilometros de Rushooka. Me ocupo com a
formação para a Vida Religiosa das jovens africanas que desejam ser Filhas do
Amor Divino. Minha missão atual é ser Superiora da comunidade e Mestra das
Noviças. Atualmente temos sete candidatas. É mais uma rica experiência que me
foi dada por pura gratuidade do Senhor” - termina Irmã Alaide.
Ir.
Marlene Weber
Crianças
da comunidade
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