A batalha espiritual entre a Mulher
revestida de sol e o Dragão vermelho pode ser compreendida como a luta entre
dois amores: amor e egoísmo.
Santo Agostinho diz que a história da
humanidade consiste na luta entre dois amores: amor e egoísmo. Esta batalha espiritual
entre amor e egoísmo está presente simbolicamente no livro do Apocalipse, na
Mulher revestida de sol e no grande Dragão vermelho.
Estas duas formas de interpretar a
história da humanidade primeiramente nos ajudam a identificar de qual lado
dessa batalha espiritual nós estamos lutando. A partir disso, somos chamados a
fazer uma escolha entre o amor e o egoísmo, entre a Mulher e o Dragão. Pois,
não há como conciliar essas realidades, pois são antagônicas, incompatíveis
entre si.
A batalha espiritual entre a Mulher e o
Dragão
Na sua célebre obra “A Cidade de Deus”,
Santo Agostinho afirma que toda a história humana, a história do mundo,
consiste na luta entre dois amores:
Dois amores fazem duas cidades: uma é
terrestre, obra do amor de si até ao desprezo de Deus; a outra, celeste, obra
do amor de Deus até ao desprezo de si. Fecerunt itaque civitates duas
amores duo: terrenam scilicet, amor sui usque ad contemptum Dei; cœlestem vero,
amor Dei usque ad contemptum sui[1].
Esta interpretação da história como
luta entre dois amores: o amor e o egoísmo, aparece também no livro do Apocalipse
de São João:
Apareceu em seguida um grande sinal no
céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma
coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava de dores, sentindo as
angústias de dar à luz. Depois apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão
vermelho, com sete cabeças e dez chifres, e nas cabeças sete coroas. Varria com
sua cauda uma terça parte das estrelas do céu, e as atirou à terra. Esse Dragão
deteve-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de que, quando ela
desse à luz, lhe devorasse o filho (Ap 12, 1-4).
Nesta passagem das Sagradas Escrituras,
estes dois amores aparecem representados por duas grandes figuras. Em primeiro
lugar, há o grande Dragão vermelho, fortíssimo, com uma manifestação impressionante
e inquietadora do poder sem a graça, sem o amor, do egoísmo absoluto, do terror
e da violência. No contexto histórico em que São João escreveu o livro do
Apocalipse, este Dragão fazia-se presente no poder dos imperadores romanos
anticristãos, de Nero a Domiciano (de 54 a 96 a.C.). O poder do Império Romano
parecia ilimitado. O poder militar, político, propagandístico do Império era
tão grande, que diante dele a fé, a Igreja, poderia ser comparada com uma
mulher indefesa, sem possibilidade de sobreviver, e muito menos de vencer. Quem
poderia opor-se a este poder que parecia quase onipotente, capaz de realizar
tudo? Entretanto, sabemos que, no final, a Mulher, aparentemente frágil e
indefesa, venceu. O egoísmo não venceu, nem o ódio. Mas, o amor de Deus venceu,
e o Império Romano abriu-se à fé cristã.
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