Artigo SOB A LUZ DAS VITÓRIAS
Por Ir. Vilma Lúcia de Oliveira, FDC
Luz e Vitória - Mais que tema é um leme. Afinal,
são noventa anos em travessia pelo mar do tempo, sob a Luz e
o Timão da Senhora das Vitórias.
Se a primeira tarefa da Educação é ensinar a
ver, como dizia Nietzshe, então, não basta só enxergar. Na realidade, o olhar
obedece às leis da física ótica, mas a visão segue a
inspiração da Luz. Com
esta visão, o Nossa Senhora das Vitórias[1] (ENSV) vive, conta,
canta e agradece os feitos e efeitos das conquistas da Luz. Luz modeladora e
promotora da visão humana de pessoa, de mundo, de vida e Vitória, que não segue
a logica do sucesso.
Do mapeamento
documental, da pesquisa histórica da instituição, destacam-se dois aspectos que
são determinantes para os fundamentos historiográficos, das origens do ENSV. O
primeiro se baseia nas principais ocorrências entre 1920-1927, por ocasião do
surgimento da ideia de uma escola voltada para a formação da mulher à chegada
das Irmãs, Filhas do Amor Divino, para dirigir os trabalhos da Entidade. O
segundo diz respeito ao contexto, do momento, tendo como foco principal a
Igreja, a mulher e a Educação. A abordagem é delimitada pelo tempo e espaço suscintamente
entrelaçados como luz e leme. Leme que direciona o velejar institucional,
atravessando nove décadas, em mar aberto, singrando pelo tempo, sob a direção
da Luz da Senhora das Vitórias. Luz que dá forma e plasma à sua história. Tendo
como leme o Evangelho e o carisma de Madre Francisca Lechner: Compreender amando, amar amparando, amparar
salvando. Evangelho e carisma articulados
num sistema de direção permitindo aos navegantes da comunidade educativa,
desfrutar os ventos na direção desejada, impedindo que a embarcação navegue à
deriva, inclusive quando os ventos sopram na direção contrária.
Tudo começou em 1920 quando o Jornal “A Cidade”,
semanário dirigido por Palmério Filho, lançou o desafio: a fundação de um
estabelecimento de ensino para fazer jus ao desenvolvimento que se processava
no Vale do Açu.
Sob a liderança do Monsenhor Joaquim Honório da
Silveira e do Padre Júlio Alves Bezerra, apoiados pelo Bispo da Diocese de
Natal[2],
D. Antônio dos Santos Cabral[3],
foi formada uma comissão constituída pelas principais lideranças da cidade, para
construir uma escola cristã destinada à formação de mulheres, às futuras mães
da região. Igreja e Comunidade de mãos dadas estabeleceram as regras básicas da
sua construção e o fazer comunitário foi a luz que iluminou e o leme que
direcionou os trabalhos iniciais.
No dia 3 de julho de 1922 aconteceu a primeira
reunião para organizar e mobilizar a comunidade para construir o Colégio, que
foi denominado de Colégio Nossa Senhora das Vitórias. A construção começou no
dia 7 de setembro de 1922, com o lançamento da pedra fundamental, como parte
das festas em que se comemorava o primeiro centenário da emancipação política
da cidade. No dia 5 de dezembro de 1925, o novo Bispo Diocesano, Dom José
Pereira Alves[4],
presidiu uma reunião para arrecadar ajudas destinadas à conclusão do prédio. A
Comunidade empreendeu mais dois eventos para angariar mais benefícios: Um no
dia 24 de dezembro de 1925 e o outro no ano seguinte, em 1926, no dia 13 de
maio com sucesso.
No dia 11 de julho de 1926, o Jornal “A Cidade”
divulgou o seguinte telegrama: Senhor Bispo obteve Congregação Filhas do Amor
Divino aceitou direção nosso Colégio. A alegre notícia percorreu pela
comunidade e todos envidaram esforços para que a obra chegasse ao seu término. Boa
parte da edificação culminou em 1927 o essencial para receber as Filhas do Amor
Divino, que iriam assumir a direção dos trabalhos da Instituição.
No dia 17 de fevereiro de 1927, as Irmãs desembarcaram
em Recife. No dia 19 de fevereiro prosseguiram viagem e no dia 22 de fevereiro
as Irmãs Alberta Garimbert, Digna Taudes, Volkmara Stanoscheck chegaram à Açu e
com elas uma esperada chuva. A recepção começou em Lages e de Lages vieram para
Açu no Ford dirigido por Luiz Lucas Lins Caldas Neto.
No dia 8 de março veio o Bispo de Natal, Dom
José Alves, acompanhado do Monsenhor Honório, do Presidente do Estado, Dr. José
Augusto Bezerra[5] e
de alguns outros senhores de Natal, para a festa de Inauguração programada para
o dia 9 de março de 1927. De acordo com o programa publicado, às 7h e 30mn
tiveram início as cerimônias religiosas com a Bênção do Prédio e a Santa Missa
na Capela do Colégio. O Presidente foi o Sr. Bispo Diocesano, acolitado pelo
Monsenhor Joaquim Honório e o Vigário da Paróquia, o Padre Júlio Bezerra. Seguiu-se
uma Sessão Magna, presidida pelo então Presidente do Estado.
São significativas as afirmações
feitas pelo Dr. Adalberto Amorim, orador oficial da Sessão Inaugural,
especialmente quando adjetiva o Nossa Senhora das Vitórias como Oficina de Luz, Viveiro espiritual e citando Júlio Simon, o orador dizia que cada
vez que se educa uma filha, funda-se uma escola. Assim, o Nossa Senhora das
Vitórias foi inaugurado, por entre festas de acolhimento, de gratidão, de belos
e proféticos sonhos.
Queriam uma escola cristã para a formação da
mulher. Se de um lado numa sociedade em que o catolicismo predomina,
justifica-se a busca por uma escola cristã, do outro percebia-se uma
efervescente transformação social. No início do século XX, portanto, na década
de 1920, devido ao panorama
econômico-cultural e político delineado após a Primeira Grande Guerra, o Brasil
começou a se repensar. Entre
1920 e 1930, a chamada “Pedagogia da Escola Nova” entra em cena, trazendo as
novas teorias e práticas da Educação, influenciadas pelas ideias inovadoras de
estudiosos do Brasil e de outros países. É desta época as fundações das
Universidades Católicas no Brasil.
Neste ínterim começava também uma nova
construção identitária feminina. Em diversos
setores sociais, as mudanças eram debatidas e reformas eram propostas. Com a
implantação dos ideais da Escola Nova, o papel do Estado em matéria educacional
foi redefinido e já estava em processo os movimentos em prol da mulher. Eram alguns dos
sintomas da necessidade de uma nova construção cultural, diferente da que
envolvia a escola e a função social da mulher.
Neste
contexto, já circulam nos meios pensantes as ideias como a do historiador e
filósofo francês Jules Michelet, principalmente as que estão no seu livro, A Mulher, publicado em 1859. Desde então
são fomentadas as convicções da mulher
como redentora, como anjo de paz e de
civilização. A mulher torna‐se a pedra fundamental de toda a sociedade,
pois, educando a criança, forma o homem. Se o homem é a força da criação, a mulher é a redenção da humanidade[6].
É emblemático o discurso de inauguração, no dia do lançamento da Pedra
fundamental para a construção do Colégio. Porque desde 1859 já dizia Jules Michelet: Toda mulher é uma
escola, e é delas que as gerações recebem realmente sua crença. Muito antes que
o pai pense na educação a mãe deu a sua, que não mais se apagará[7].
Hoje, a escola de outrora, rejuvenescida pelo
refletor das suas origens, continua sua
navegação. Se na
poesia de Fernando Pessoa o encontro das linhas do Mar e do horizonte, espelha
o céu, nos horizontes da história desta oficina
de luz – viveiro espiritual, a Luz e o Leme se confundem. Assim, parafraseando o mesmo
poeta, podemos dizer que hoje, o Educandário continua atualizando as
primícias da sua história sentindo-se nascido para a eternidade do mundo sob a
Luz e o Timão da Senhora das Vitórias.
[1] Cfr. Amorim, Francisco, Colégio Nossa
Senhora das Vitórias, 50 anos, (Coleção Assuense) série A n° 001, 1977, p
7. Este trabalho tem como base esta
obra, o Livro de Tombo da Paróquia São João Batista, o Livro das Crônicas da
Casa Matriz das Filhas do Amor Divino e o da Comunidade de Açu. E também OLIVEIRA, Vilma Lúcia, in História da Paróquia de Assú, org. por
DE LIMA, Auricéia Antunes, Coleção Assuense, Vol. 0008, Assú, dezembro de 2002,
pp 302-315.
[2] Nesta época a Paróquia
de São João Batista pertencia à Diocese de Natal. A Diocese de Mossoró foi
criada em 28.VI.1934, logo, 7 (sete) anos após a Fundação do Educandário Nossa
Senhora das Vitórias.
[3] É o segundo bispo da Diocese de Natal,
natural de Propriá, Sergipe. Governou a Diocese de Nossa Senhora da
Apresentação de: 30. V. 1918 – 21. XI. 1921; daqui foi transferido para a
Diocese de Belo Horizonte.
[4] Sucessor de D. Antônio
dos Santos Cabral, D. José Pereira Alves, nasceu em Palmares, Pernambuco,
governou a Diocese de Natal de 17. VI. 1923 – 27. I. 1928, daqui foi
transferido para a Diocese de Niterói.
[5] Governou o Rio Grande
do Norte de 1. I. 1924 – 1. I. 1928.
[6] MICHELET, Jules, A mulher, São Paulo. Martins Fontes, 1895,
p. 275
[7] Loc Cit, p. 118.
Obrigada Irmã Vilma Lúcia, pela homenagem sua através deste artigo tão significativo para o momento.
ResponderExcluirObrigada Nadja, por manter nosso Blog sempre atualizado. Obrigada pela rapidez em tornar publico o momento significativo da nossa história em Assu.