MENSAGEM
DO PAPA PARA A QUARESMA 2017
“Queridos irmãos e irmãs do
Brasil! Desejo me unir a vocês na Campanha da Fraternidade que, neste ano de
2017, tem como tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, lhes
animando a ampliar a consciência de que o desafio global, pelo qual toda a
humanidade passa, exige o envolvimento de cada pessoa juntamente com a atuação
de cada comunidade local, como aliás enfatizei em diversos pontos na Encíclica
Laudato Si’, sobre o cuidado de nossa casa comum.
O criador foi pródigo com o
Brasil. Concedeu-lhe uma diversidade de biomas que lhe confere extraordinária
beleza. Mas, infelizmente, os sinais da agressão à criação e da degradação da
natureza também estão presentes. Entre vocês, a Igreja tem sido uma voz
profética no respeito e no cuidado com o meio ambiente e com os pobres.
Não apenas tem chamado a atenção
para os desafios e problemas ecológicos, como tem apontado suas causas e,
principalmente, tem apontado caminhos para a sua superação. Entre tantas
iniciativas e ações, me apraz recordar que já em 1979, a Campanha da
Fraternidade que teve por tema “Por um mundo mais humano” assumiu o lema:
“Preserve o que é de todos”.
Assim, já naquele ano a CNBB
apresentava à sociedade brasileira sua preocupação com as questões ambientais e
com o comportamento humano com relação aos dons da criação. O objetivo da
Campanha da Fraternidade deste ano, inspirado na passagem do Livro do Gênesis
(cf. Gn 2,15), é cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros,
dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à
luz do Evangelho.
Como “não podemos deixar de
considerar os efeitos da degradação ambiental, do modelo atual de
desenvolvimento e da cultura do descarte sobre a vida das pessoas” (LS, 43),
esta Campanha convida a contemplar, admirar, agradecer e respeitar a
diversidade natural que se manifesta nos diversos biomas do Brasil – um
verdadeiro dom de Deus – através da promoção de relações respeitosas com a vida
e a cultura dos povos que neles vivem.
Este é, precisamente, um dos
maiores desafios em todas as partes da terra, até porque as degradações do
ambiente são sempre acompanhadas pelas injustiças sociais. Os povos originários
de cada bioma ou que tradicionalmente neles vivem nos oferecem um exemplo claro
de como a convivência com a criação pode ser respeitosa, portadora de plenitude
e misericordiosa.
Por isso, é necessário conhecer e
aprender com esses povos e suas relações com a natureza. Assim, será possível
encontrar um modelo de sustentabilidade que possa ser uma alternativa ao afã
desenfreado pelo lucro que exaure os recursos naturais e agride a dignidade dos
pobres. Todos os anos, a Campanha da Fraternidade acontece no tempo forte da
Quaresma.
Trata-se de um convite a viver
com mais consciência e determinação a espiritualidade pascal. A comunhão na
Páscoa de Jesus Cristo é capaz de suscitar a conversão permanente e integral,
que é, ao mesmo tempo, pessoal, comunitária, social e ecológica. Reafirmo,
assim, o que recordei por ocasião do Ano santo Extraordinário: a misericórdia exige
“restituir dignidade àqueles que dela se viram privados” (Misericordia vultus,
16).
Uma pessoa de fé que celebra na
Páscoa a vitória da vida sobre a morte, ao tomar consciência da situação de
agressão à criação de Deus em cada um dos biomas brasileiros, não poderá ficar
indiferente. Desejo a todos uma fecunda caminhada quaresmal e peço a Deus que a
Campanha da Fraternidade 2017 atinja seus objetivos. Invocando a companhia e a
proteção de Nossa Senhora Aparecida sobre todo o povo brasileiro, particularmente
neste Ano mariano, concedo uma especial Bênção Apostólica e peço que não deixem
de rezar por mim.
Vaticano, 15 de fevereiro de 2017
– FRANCISCO PP.
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