D. Nivaldo Monte – Teólogo da Ternura!
Dom Nivaldo Monte
continua vivo entre nós! O Seu
amor pela Igreja e pelo seu redil, prossegue na eternidade. Só a saudade
e a ternura podem inspirar as definitivas lembranças que temos dele como um afetuoso
Pastor, homem bom, erudito, simples, orante, terno, vazio de si, mas repleto de
totalidade! A lembrança de seus gestos sinceros colore nossos dias com carisma
e afeto, eternizando o privilégio de tê-lo por perto. O seu legado tem um
triplo aspecto: ser pastor, ser poeta e ser, de alguma forma, um dos
precursores da teologia da ternura.
Como teólogo da ternura,
um afetuoso Pastor, um santo, um irmão e um amigo, conseguia formatar os corações,
com sábia e pedagógica sensibilidade. Sempre muito próximo de suas ovelhas,
reservava para o rebanho, todo o seu
carinho e a maior ternura de seu coração. A ternura é a norma de sua
práxis, pura benevolência e afabilidade. É o que a experiência de sua amizade
traz de iluminante e de esperançoso. Exatamente porque dá forma à nossa relação
com Deus, com a criação e as criaturas. Ama-se a Deus ao amar um amigo e só se
ama de verdade um amigo quando se ama a Deus. E para amar e ser amigo de Deus
“posso sê-lo agora mesmo”, disse Santo Agostinho.
Para D. Nivaldo,
todas as coisas que o cercavam tinham o seu encanto especial: da folha seca, esquecida à beira da estrada,
ao esplendor do céu a cintilar de estrelas. Incansável nas buscas e
descobertas das belezas escondidas na face das coisas e dos seres. Em cada
amanhecer via a misericórdia de Deus renovando as Suas obras. Assim, ele
restabelecia suas esperanças ratificando a profecia de Jeremias, hoje e sempre está se renovando, sua
grande fidelidade (Lm. 3, 23). Sim, foi assim que ele amou: pela simples e
divina alegria de amar.
Como poeta é um
místico, um contemplativo. Foi no Monte da contemplação, que se tornou poeta,
menestrel de todos os amores, cantando madrigais a todos os enamorados de Deus
e despertando ternuras esquecidas nas almas. Um poeta profundamente místico,
via com olhos de admiração o sentido e a beleza que se encerram na realidade de
cada dia. Descobrir os encantos, para ele, era como compor uma beleza a mais;
uma nova alegria para a sinfonia ideal da criação, na existência feliz que
recebeu de Deus” (Minha Cidade Natal e eu, p. 46). Tinha uma forma bem própria
para falar de Deus, assim como o amado fala da amada. Quase que
espontaneamente, deixava escapar a criança que guardava em seu coração. Não
sabia esconder o amor que o fazia viver! E como que resgatando a linguagem
infantil da ternura, brindava-nos com as mais pueris imagens do carinho. E
quando diante das dificuldades e das dores humanas, acolhia tudo afirmando: a dor, eis a grande sentinela da vida (A
Dor, p.7). Para nós, ele é uma inspiradora referência. Essa memória desperta em
nossos corações, um grato reconhecimento, pode até não aparecer, mas é
profundamente presente a sua presença!
Para quem o conheceu,
é fácil recordar o ressoar de sua voz dizendo: A presença só é real e verdadeira, quando sentimos falta dela! Portanto,
fica fácil repercutir suas palavras: Como sentimos falta dele...! Hoje, festejando
o centenário de seu nascimento, bebemos
do Amor desta ausência – presença e, por isto, parece que o ar fica
florido de memórias; a impressão é de que ele vem surgindo todo paramentado de eterno,
por entre litúrgicas plantas e flores, celebrando num místico altar em cascatas
de carinhosas preces e bênçãos. E de repente, a sua voz vibrante de afetuosa inteligência, ecoa em esvoaçantes recordações,
memórias que geram em nossa vida, um novo começo no qual a sua presença é
mais real e verdadeira.
O seu legado continua
vivo, como potente luzeiro, iluminando os escuros dos nossos caminhos na
decifração do mistério da vida; refinando a nossa atenção para o essencial da
realidade, muitas vezes ofuscada e inaudível; preservando-nos dos riscos da
banalização do mistério. É um tesouro que conservamos em nossas almas como um verdadeiro
mapa que nos leva ao segredo que ilumina a penumbra do Templo, o limiar do
Reino do “Pai Querido”. Como ele gostava de dizer: “se o amor brilhar em nossos corações, chegaremos à meta de todos os
destinos” (Gestos de Fadário, p. 34).
D.
Nivaldo Monte, teólogo da ternura, afetuoso pastor, dom da paz e muito mais, um
dom do céu, interceda, junto a Deus, por nós.
Ir. Vilma Lúcia de Oliveira, FDC
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