Comunidades religiosas são contra a eutanásia
As oito comunidades religiosas representadas em
Portugal assinaram uma declaração de compromisso onde manifestam a sua posição
contra a legalização da morte assistida em qualquer das suas formas, seja
suicídio assistido ou eutanásia, porque acreditam "que a vida humana é inviolável
até à morte natural e perfilhamos um modelo compassivo de sociedade e, por
estas razões, em nome da humanidade e do futuro da comunidade humana, causa da
religião, nos sentimos chamados a intervir no presente debate sobre a morte
assistida, manifestando a nossa posição à sua legalização em qualquer das suas
formas, seja suicídio assistido, seja eutanásia", lê-se no documento.
Esta tomada de posição foi assinada no final de uma conferência
sobre "Como cuidar com compaixão", organizada pelo Grupo de Trabalho
Inter-Religioso para as questões de saúde, que teve lugar na Academia das
Ciências de Lisboa, que contou com a presença do cardeal patriarca de Lisboa,
D. Manuel Clemente, e com os restantes líderes religiosos - evangélicos,
judeus, muçulmanos, hindus, ortodoxos, budistas e adventistas. O documento será
entregue na Presidência da República e no Parlamento, antecipando a discussão e
votação de quatro projetos de lei, do PAN, PEV, BE e PS, sobre a morte
assistida, agendada para o próximo dia 29 de maio.
Este grupo, que tem feito um trabalho em conjunto desde setembro
de 2009, assim que foi aprovada a Lei da Liberdade Religiosa, em unidades de
saúde, refere no texto que assinou que "o debate em curso na sociedade
portuguesa sobre a realidade a que se tem chamado morte assistida" convoca
todos a realizarem uma reflexão e a oferecerem o seu contributo para enriquecer
um processo de diálogo que necessita da intervenção da pluralidade dos atores
sociais." Até porque, como foi defendido, "as tradições religiosas
são portadoras de uma mensagem sobre a vida e a morte do homem, bem como sobre
o modelo de sociedade que constituímos, e é legítimo e necessário que a
apresentem, com humildade e liberdade."
As oito confissões religiosas - Aliança Evangélica Portuguesa,
Comunidade Hindu de Portugal, Comunidade Islâmica de Lisboa, Comunidade
Israelita de Lisboa, Igreja Católica, Igreja Ortodoxa, Patriarcado Ecuménico de
Constantinopla, União Budista Portuguesa e União Portuguesa dos Adventistas do
Sétimo Dia - "conscientes de que vivemos um momento de grande importância
para o nosso presente e o nosso futuro coletivo", declararam defenderem
com esta posição "a dignidade daquele que sofre", "uma sociedade
misericordiosa e compassiva" e os "cuidados paliativos", que são
"uma exigência inadiável".
No texto defendem que "cada ser humano é único e, como tal,
insubstituível e necessário à sociedade de que faz parte. (...) ",
admitindo que "todo o sofrimento evitável deve ser evitado" e que
"o caráter dramático do sofrimento e a dificuldade de que se reveste a
elaboração de um sentido de viver" não é ignorado. Contudo, "a
dignidade da pessoa não depende senão do facto da sua existência como sujeito
humano e a autonomia pessoal não pode ser esvaziada do seu significado social."
Na defesa por uma sociedade compassiva, as confissões acreditam
que "o sofrimento do fim de vida é, para cada pessoa um desafio espiritual
e, para a sociedade, um desafio ético". E, hoje, "o morrer humano é
um dos âmbitos em que este desafio nos interpela. O que nos é pedido não é que
desistamos daqueles que vivem o período terminal da vida, oferecendo-lhes a
possibilidade legal da opção pela morte." Esse, dizem, "é o
verdadeiro sofrimento intolerável, que cria condições para o desejo de morrer".
O que "nos é pedido é, pois, que nos comprometamos mais profundamente com
os que vivem esta etapa, assumindo a exigência de lhes oferecer a possibilidade
de uma morte humanamente acompanhada."
Quanto aos cuidados paliativos, as comunidades religiosas dizem
que estes "são a concretização mais completa desta resposta que o estado
não pode deixar de dar, porque aliam a maior competência científica e técnica
com a competência na compaixão, ambas imprescindíveis para cuidar de quem
atravessa a fase final da vida."
Nenhum comentário:
Postar um comentário