terça-feira, 15 de março de 2011

Em breve, 70 anos do martírio das Irmãs, Filhas do Amor Divino



Em 1959 celebrei minha primeira missa em Sarajevo e, no dia seguinte, o meu pároco, o falecido Milivoj Cekada, pediu-me para realizar um funeral. A família, sofrida, veio ao meu gabinete na catedral para acertar todos os detalhes da cerimônia e o padre Cekada fazendo as apresentações disse: “Este é o nosso novo sacerdote, Pe. Anto Bakovic . Ele será o celebrante deste funeral, que aliás será o primeiro da sua vida sacerdotal”. A estas palavras repliquei calmamente: “Sim, é verdade. Este será o meu primeiro funeral como sacerdote, mas na realidade acompanhei um outro funeral há dezoito anos. Isto aconteceu antes do Natal de 1941, em Gorazde, quando com o coveiro Blasko e o meu limitado conhecimento das orações, ao invés de numa cova, “sepultei”quatro Irmãs no Drina.
Então contei ao pároco Cekada este acontecimento da minha adolescência quando, como rapazinho e coroinha da Igreja de Gorazde, imitei o falecido Pe. Roje recitando o Pai Nosso e fazendo o sinal da cruz com a mão, como se estivesse dando a absolvição.
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Assim que chegamos ao Drina, rapidamente encontramos os corpos das Irmãs, estendidos no mesmo lugar e já quase todos tomados de uma coloração que tendia ao azul escuro.  Quando percebi que havia a intenção de empurrar as Irmãs para o Drina, perguntei-lhe: “Blasko, onde cavaremos a cova para as Irmãs? Sabes o que te disse mamãe e o que prometeste a ela?”.
Blasko começou a desvirar os corpos, um de cada vez, liberando-os do gelo, da areia; a água, a areia e os corpos formavam uma massa gelada. A primeira que o coveiro empurrou na água foi a Irmã que estava mais longe porque o seu corpo não estava ainda congelado. Depois ele passou à segunda que tinha apenas uma pequena parte do corpo fora d’água mas que estava completamente congelada. Eu continuava a recitar o Pai Nosso ininterruptamente, dando a cada uma a minha “absolvição” de coroinha. De quando em quando, Blasko batia no corpo das Irmãs na tentativa de usar o bastão como alavanca e, com isto, provocava nelas nova perfuração, como ferida, sem que saísse sangue.
Chegando em casa, contei a mamãe como Blasko empurrou todas as Irmãs no Drina e expliquei-lhe, em detalhes, tudo o que acontecera. Ela chorou de novo, amargamente, porque esperava que o coveiro fizesse tudo aquilo que lhe havia pedido, se não por um sentimento de humanidade, ao menos pela recompensa prometida; mas ele havia agido segundo as ordens dos seus superiores “cetnik”.
Assim, todas as quatro Irmãs foram sepultadas no Drina frio e ensanguentado que, nos últimos dois meses de 1941, veio a ser a sepultura de 8 000 inocentes, muçulmanos e católicos.
Fonte: As mártires do Drina, pag 75 a 79

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