sexta-feira, 7 de março de 2014

A mulher na Igreja

Os questionamentos em relação à mulher na Igreja começaram a tomar forma entre os fins do século XIX e meados do século XX. Neste arco de tempo era comum ver mulheres atuando na Igreja, ocupando-se com a manutenção do culto, a limpeza e ornamentação do Templo, organização de procissões, terços, novenas, obras de misericórdia, escolas e raramente em faculdades. Diversas são as que auxiliam os Padres em suas dificuldades domésticas e de saúde. Em geral eram catequistas, participantes das irmandades, ordens terceiras e movimentos como: Apostolado da Oração, Filhas de Maria, e outras.  
Em nossa Arquidiocese, Natal RN, Religiosas assumiram a função de Vigárias, em Paróquias sem padres. São bem conhecidas as experiências em Nísia Floresta, São Gonçalo, Taipu, além de outras atividades, que não eram comuns, na Igreja, antes do Concílio Vaticano II. Já se cogitava sobre o sacerdócio ministerial para as mulheres. Surgem então, novas questões que inspiraram e continuam inspirando um notável repensamento sobre a mulher na Igreja, portando em si uma nova consciência de Igreja.
Esta nova consciência consiste, na concepção de que a Igreja é povo de Deus, formado por homens e mulheres que, por sua vez, são criaturas de Deus. Desta nova realidade nasce o conceito de sacerdócio comum dos fiéis e consequentemente a promoção do leigo (as) na Igreja. As funções do clero, dos leigos e leigas entraram num processo de nova compreensão. Mas isso está longe de se traduzir em equidade no trabalho, na política, nas relações sociais. Sobre o trabalho feminino, a baixa escolaridade era um agravante. Superado este impasse, não se percebeu maiores alterações, as mudanças culturais são lentas e as institucionais ainda mais. Evidentemente, alguns questionamentos  incomodam, por exemplo: se o Batismo confere a todos (as) a grande dignidade, a plena cidadania na Igreja, por que só os homens podem receber o Sacramento da Ordem?
Mesmo assim, um olhar diferente surge nos horizontes da Igreja. Começa-se a perceber que não é possível considerar o sacerdócio ministerial feminino a única questão relevante ao tratar do lugar da mulher na Igreja. Sobretudo considerando o retorno à vivência integral do Evangelho. Nos relatos do NT não se encontra Jesus ordenando alguém como sacerdote. Sem maiores delongas históricas, o fato é que até o III século não se falava em sacerdote, na Igreja. O “Ordo” era uma instituição do império romano. Hoje, com os posicionamentos do Papa Francisco, muitos (as) já se questionam: será conveniente para a Igreja aumentar o peso do poder do clero, fortalecendo a instituição que já possui tantos privilégios ajudando a preservá-los com sacerdotisas?
Como disse o papa, trata-se de um grande desafio, os teólogos poderiam ajudar a reconhecer melhor em que isto implica, em se tratando do possível lugar da mulher nos diversos âmbitos da Igreja (Ev G. 104). A superação, deste desafio, está nas bases das discussões e posicionamentos que requerem caminhos, construídos com abordagens que supõem novas capacidades para um verdadeiro diálogo. Urge redimensionar os persistentes modelos de um cristianismo antifeminino que ainda vigoram. Embora na Igreja as funções não dão justificação à superioridade de uns sobre os outros (Ev G.104).
Passados pouco mais de 50 anos do Vaticano II, percebe-se que a Igreja soube reconhecer a diferença de gênero. Embora, de um lado considerando a atuação da mulher como uma contribuição de inteligência, mas de outro com uma reserva de entusiasmo. Considere-se, por exemplo, a participação das 23 mulheres convidadas como auditoras, as “Mães do Concílio”.
As 10 religiosas e 13 leigas nunca tomaram a palavra na assembleia conciliar, não podiam, embora as suas contribuições tenham sido determinantes para o capítulo IV da Lumen Gentium sobre os leigos, para as partes da Gaudium et spes sobre a contribuição dos fiéis na construção da cidade humana, para o decreto sobre o apostolado dos leigos e também para muitos outros aspectos do debate conciliar (cfr. O resultado dos estudos históricos,  realizados, nas fontes, pela teóloga e historiadora Adriana Valério, in Madri del Concilio. Ventitre donne al Vaticano II).
Enfim, para todos(as), resta muita coisa para se aprender e desaprender também, mas o fundamental para a mulher na Igreja (não só para mulher) é ser seguidora fiel de Jesus e de sua forma de entender a vida.

 Ir. Vilma Lúcia de Oliveira, FDC

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