sexta-feira, 20 de junho de 2014

Província Nossa Senhora das Neves – Comemorando 75 anos de Missão, como Província



Antes de tudo apresento um grato reconhecimento diante da outorga desta homenagem.
75 anos de Missão como Província. Qual é o sentido, o significado mais profundo, que está no âmago desta comemoração? A resposta supõe uma história impulsionada pela memória de algo que é muito mais do que a própria história. Trata-se da força que se esconde nas fragilidades humanas.
A memória deste algo compreende três aspectos que em si são convergentes: o primeiro é o estro e a chave de compreensão da força que nos impulsiona não obstante as fragilidades históricas; o segundo um contexto que aponta para o início da Congregação, berço da missão brasileira e o terceiro a dinâmica  dos inícios desta  missão, no Brasil, apenas, até a ereção canônica das Províncias brasileiras objeto da atual comemoração.    
1- As congregações religiosas não são simples realidades históricas, são também figuras místicas e escatológicas. A história de cada uma revela, nas entrelinhas da sucessão dos fatos, a força da fragilidade. Realidade que aponta para algo que transcende a realidade humana.  Como dizia João Paulo II: “as congregações, em meio aos mais vulneráveis, manifestam a sua profecia como sinal do Reino de Deus”.
Por isso são também figuras místicas e escatológicas, adaptam-se à história numa constante atitude de escuta às inspirações dos seus fundadores e fundadoras. Homens e mulheres, normalmente carregados de uma forte carga de utopias e de sonhos que se instalam  no coração e na alma da Instituição. Mas, em geral no seu processo de adaptação à realidade histórica, corre o risco de se distanciar desta fonte vivificadora. Pois na medida em que o tempo passa, esta especial memória, torna-se distante, mais longe e por vezes até cai no esquecimento.  E para evitar este esquecimento as comunidades procuram adotar uma postura de certa escuta.
Esta especial escuta visa atualizar, no tempo, a tradição memorial para assegurar a nossa identidade de comunhão com Jesus o missionário por excelência, o primeiro Filho do Amor Divino, a garantia principal para se  manter viva e criativa esta memória. Este é o sentido mais profundo das comemorações destes 75 anos da missão como Província.
Este é o estro que está no íntimo da história da Congregação das Filhas do Amor Divino, que por sua vez materna as duas Províncias brasileiras: a Província Nossa Senhora da Anunciação, atualmente, com sede e Santa Maria, no coração do Rio grande do Sul e a Província Nossa Senhora das Neves, atualmente, com sede em Emaús, na BR 101, km 7, Parnamirim. E como isto tudo começou e se instalou na história?  
2 –  Tudo começou com uma mulher simples e muito especial: Francisca Lechner (1833 -1894), alemã, natural de Edling, na Baviera.  Uma mulher que fez acontecer a utopia que alimentava seus sonhos desde criança. Procurou responder aos apelos das pessoas mais frágeis de sua época, a jovem mulher imigrante, vítima dos impactos das revoluções em curso no século XIX.
Este projeto foi efetivado na Áustria, em Viena e deu origem à Congregação das Filhas do Amor Divino, no dia 21 de novembro de 1868.
Aos poucos e superando todas as dificuldades, Madre Francisca Lechner, inaugura Institutos Marianos, espalhando-os em diversas regiões do Império austro-húngaro. Estes institutos viabilizavam, de alguma forma, a superação dos esquemas de exploração da mão de obra feminina de então. Estes inícios são, para nós, as sementes de esperanças semeadas que continuam desabrochando na utopia de novos espaços e renovadas esperanças, até hoje. 
Entre 1868 e 1920 surge uma ponte missionária entre as fontes das origens históricas das Filhas do Amor Divino e o Brasil, dando origem à fundação da missão brasileira.
No processo do crescimento, da Congregação, no governo da segunda Superiora Geral, Madre Ignatia Egger (1844 – †1928), surge outro enunciado utópico e a execução do um novo sonho que partiu da Ir. Teresina Werner (1874 †1946), o de abrir a Congregação para a missão além das fronteiras da monarquia danubiana, numa época que isto parecia impossível.  Este enunciado a fez guardiã do ideal missionário das origens.  
3 - Em 1920, portanto, a Congregação das Filhas do Amor Divino chegou ao Brasil, fruto dos insistentes pedidos de Ir. Teresina Werner. A Madre Geral Ignatia Egger, depois de muita hesitação e relutâncias, permite que as Filhas do Amor Divino atuem também no Brasil.
Depois de longa e sofrida espera, Ir. Teresina Werner e Ir. Constantina Resch (1878 - †1952), em junho de 1920, desembarcaram em São Paulo no Porto de Santos, em seguida viajam para o primeiro campo de ação, a colônia alemã de Serro Azul, hoje, Cerro Largo, no Rio Grande do Sul.  Foram acolhidas, na nova fundação, no dia 19 de Julho de 1920. De 1920 a 1925, as comunidades cresceram com a chegada de mais Irmãs, inclusive com vocações nativas.
Em 1925, a convite do Bispo de Natal D. José Pereira Alves (1922 -1928), Ir.Teresina Werner com as demais Irmãs, decidem por uma fundação no Rio Grande do Norte. No dia 11 de outubro de 1925 chegaram a Natal as Irmãs: Teresina Werner, Constantina Resch, Benjamina Thuma, Priska Hamala, Berchmana Hardegg, Josefina Gallas, Anna Everling, Magdalena Mumbach e Marta Steffens. Foram designadas para Caicó onde tomaram posse, no dia 25 de outubro de 1925, efetivando a fundação do Colégio Santa Teresinha.  
Até 1938 todas as atividades desenvolvidas no Brasil, dependiam do Governo Geral, que era sediado em Viena. As dificuldades de comunicação também por causa da situação caótica que envolvia as nações, o controle administrativo destas comunidades era inviável. Devido aos impasses gerados a Madre Kostka Bauer, Superiora Geral da Congregação, na época, precisou assumir uma posição mais prática. E no Capítulo Geral que se reuniu nos dias 26 e 27 de Julho de 1938 decidiu pedir à Santa Sé a licença para criar duas novas Províncias da Congregação, no Brasil, uma no Nordeste e outra no Sul.
Diante das justificativas apresentadas à Santa Sé, a solicitação foi atendida em forma de Decreto datado de 19 de dezembro de 1938. Assim nasce a missão como Província.   De certa forma é uma espécie de emancipação do Governo Geral. Por isso, celebramos seu 75 anos de criação.
A Madre Kostka Bauer fez a comunicação através de uma circular, que chegou, pelas mãos da Ir. Aquilina Eibel vinda da Áustria, acompanhada por mais três outras jovens Irmãs destinadas como ajuda para a missão no Brasil, nos idos de 1939; eram as Irmãs: Ir. Armela Lechner, Ir.Hedwiges Witkowstka e  a Ir. Fidélis Weninger.
Nesta correspondência datada de 19 de janeiro de 1939 é feita a comunicação e a nomeação das primeiras Provinciais: Irmã Christina Wlastnik, Provincial para o Nordeste do Brasil, com quatro estabelecimentos sob a sua jurisdição: O Santa Teresinha, em Caicó, Nossa Senhora das Vitórias em Assu, Colégio Nossa Senhora das Neves, em Natal e o Colégio Cristo Rei em Patos na Paraíba. Foram também nomeadas as três primeiras conselheiras provinciais: a 1ª Ir. Josefina Gallas, a 2ª Ir. Imaculada Widder e a 3ª Ir. Helena Trunk.  Madre Christina governou de 1939 a 1950. E como Provincial para o Sul do Brasil a Irmã Rigalda Lepka, com cinco casas sob a sua jurisdição, teve seu período de mandato igual ao de Madre Christina. As assistentes de Madre Rigalda Lepka eram: 1ª Ir. Cantalícia, 2ª Ir. Digna e a 3ª  Ir. Jaromira. Irmã Rigalda governou de 1938 a 15 de abril de 1950.
A missão cresce e hoje a nossa Província N. Sra das Neves é dinamizada por 168 irmãs, distribuídas em 21 comunidades, espalhadas pelo RN, PB, Ceará, Alagoas, Bahia, Minas, Brasília e Rj, de certa forma tb em Uganda, na África,  nos Estados Unidos e na Europa, atuando   em escolas, faculdades, paróquias e pastoral social. E a Província N. da Anunciação com 213 Irmãs e 33 comunidades espalhadas pelo RS, PR, DF, GO, PA, Equador, Roma. Fiéis à herança carismática da fundadora, torna visível o amor de Deus através da pastoral da educação e da saúde, atendimento de paróquias e comunidades eclesiais em situações e regiões missionárias, em obras sociais, buscando construir redes de solidariedade, economia solidária e cooperativismo e outros espaços alternativos. Na missão ad gentes, esta província está presente na África, Uganda, no Equador e no Haiti.
Como nada disso ainda foi concluído, a Congregação continua sua caminhada, atuando em vários Estados do Brasil, em várias cidades do Estado do Rio Grande do Norte e do Rio Grande do Sul.  Mesmo envolvida numa história mesclada de limites, fragilidades e condicionamentos humanos, são impregnadas de evangélicas utopias geradoras daquela Força que as fragilidades tentam esconder.
Assim, comemoramos 75 anos da missão como Província. Em comunhão com a Igreja, a Congregação, com o Governo Geral, mas com um pouco mais de autonomia, resgatando as origens, celebrando a memória, atualizando a missão, agradecendo profundamente e ao mesmo tempo homenageando, carinhosamente, a todos que ajudaram a construir esta história.
Muito obrigada!
                                                                                                                 Ir. Vilma Lúcia de Oliveira, FDC

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