sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Mártires do Drina e o Brilho da Glória Pascal

Como é fecundo, então, olhar para o testemunho luminoso de quem nos precedeu no sinal de uma fidelidade até ao martírio! Se os seus clamores foram calados pelo mortal massacre, suas vidas são eloquentes e inspiradoras. Continuam vivas em Deus, no brilho da Glória Pascal, refletindo luz que ilumina a nossa história e os novos horizontes da missão.  
A memória das nossas Mártires faz referência à pessoa de Jesus Cristo, o primeiro a dar sua vida como sinal de amor. É do próprio Filho do Amor Crucificado, na expressão de nossa Fundadora a Serva de Deus Madre Francisca Lechner, que emana a força desta entrega no seguimento do Seu exemplo.  
O martírio é a encarnação suprema do Evangelho da esperança. O sangue dos mártires é uma semente. Afirma a propósito Tertuliano: Plures efficimur quoties metimur a vobis: sanguis martyrum semen christianorum.  Nós multiplicamo-nos todas as vezes que somos ceifados por vós: o sangue dos mártires é semente de novos cristãos" (Apol., 50, 13: CCL 1, 171). Assim, como a Igreja do primeiro milênio nasceu do sangue dos mártires, ao término do segundo milênio, a Igreja voltou a ser Igreja de mártires (João Paulo II, 7 de Maio de 2000, no Coliseu). Também nós, somos irmãs e de mártires, de tantas outras mártires, anônimas. 
Nesta direção, a Congregação das Filhas do Amor do Amor Divino, seguindo os mesmos passos da Mãe Igreja, enriquece esta memória fecunda, através de suas filhas, as Mártires do Drina, não com uma história de heroínas, mas de mulheres consagradas a Deus e aos outros numa aliança de sangue com o povo ao qual serviam. Compõem o relicário de nossa iconografia, ajudam-nos a perceber e a contemplar o como a cruz do Mestre e o martírio das discípulas tornam-se a última e definitiva revelação da santidade de Deus (Dives in Misericordia 7). Explicitam, com eloquência comunitária e solidária que anunciamos um Salvador que não se salvou si próprio. Este e não outro é o Mestre (Mc15,29-32).
São elas, nossas Irmãs: M. Berchmana Leidenix, austríaca, nascida em 1865, M. Krizina Bojanc, eslovena, nascida em 1885, M. Jula Ivanišević, croata, nascida em 1893, M. Antonija Fabjan, slovena, nascida em 1907 e  M. Bernadeta Banja, cidadã húngara, nascida na Croácia em 1912, constituiam a Comunidade “Casa de Maria”, no povoado de Pale, fundada em 1911, a 18 km de Sarajevo, na Bósnia, não sofreram por um simples crucifixo pregado na parede, mas pelo Crucificado nos crucificados de Pale, nas proximidades de Sarajevo.
Pale era um ponto de apoio para os viajantes que iam ou vinham de Sarajevo. E as irmãs atendiam aos que batiam à porta do Convento não só com alimentos, mas também com o abrigo, nos percalços da viagem. Com o passar do tempo, por causa do atendimento caridoso, das Religiosas, aos necessitados, sem distinção, os vizinhos ortodoxos começaram a chama-lo “Hospital dos Pobres”. 
Na Segunda Guerra Mundial a Bósnia, foi muito provada, pelos conflitos que se estabeleceram entre os sérvios, muçulmanos e católicos da Bósnia oriental. O Drina é um rio que estabelece o limite entre as duas partes e atualmente divide a Bósnia da Sérvia. Duas facções políticas viviam em atritos violentos: os četnik - membros da tropa armada do Estado da Sérvia era um grupo com conotação terrorista contra os povos não Sérvios; os uštasa eram os revolucionários da direita croata. Aqueles multiplicavam os ataques às populações civis católicas e muçulmanas. Estes, apoiados pelas forças armadas de ocupação ítalo-germânica, mantinham os campos de concentração onde sacrificaram a vida de milhares de opositores ao regime, mas também civis inocentes.
Em rápidas palavras, este era o contexto em que as Irmãs viviam e experimentavam a dor de um povo indefeso e inocente. Por isso, era perigoso viver em Pale. Diante das solicitações para deixarem o local, o povo, elas decidiram permanecer e compartilhar a sua sorte. Em 11 de dezembro de 1941, os soldados da milícia četnik prenderam as Irmãs, saquearam e incendiaram o Convento. Foram deportadas para Goražde, 65 km de Pale. Até lá enfrentaram uma caminhada de 04 dias, subindo e descendo montanhas por entre o frio invernal, e atrozes agressões. A Irmã Berchmana, 76 anos, como não estava conseguindo seguir o ritmo, com as quatro, foi assassinada pelo caminho no dia 13 de dezembro.  As outras chegaram a Goražde, na tarde do dia 15 de dezembro e foram para a Caserna dos militares, próximo ao Rio Drina.
Á noite, os četnik, invadiram o local onde as Irmãs estavam instaladas, tentando violentá-las, insinuando-as a renunciarem à Vida Religiosa e prometendo-lhes muitas vantagens. Ao resistirem, Ir. Jula para evitar o estupro, abriu a janela e convidou as coirmãs a segui-la dizendo: Jesus, salva-nos! E assim pularam de um segundo andar. Instigados por estas atitudes, ao encontrá-las, em seguida, feriram-nas mortalmente e depois aos chutes as jogaram no Drina, como narra Anton Bacovič, testemunha do ocorrido, juntamente com seus familiares.   
Em profundo e místico silêncio, recolho-me olhando para estas mulheres, heroínas da fé... E contemplo no Rosto Doloroso do Amor Crucificado o Brilho da Glória Pascal. Parafraseando o Teólogo Enzo Bianchi, realmente estas mulheres pertenciam a Outro, por isso, falam com divina eloquência, a linguagem da Cruz. Graças a pessoas assim que é possível acreditar que o Amor é mais forte do que o ódio, que a vida é mais forte do que a morte, porque só quem tem uma razão para morrer, tem uma razão para viver. Esta morte não foi sem sentido e o martírio é fecundo como dizia Tertuliano (Avvenire, 20/10/2010).
Esta fecundidade, neste tempo em que toda a Congregação se prepara para a Beatificação das Mártires do Drina, supõe também uma convocação para em e através de cada comunidade, ninguém permitir que o rosto pascal de nossa Província, seja ofuscado. Uma Província pascal significa Irmãs capazes de evoluir em humanidade e que se definem a si mesmas como peregrinas e missionárias do Reino de Deus, pela Palavra que conquista as mentes e o fascínio do amor misericordioso que vence os corações. Jesus é o Evangelho, Jesus é o modelo da humanidade plena.
Não é por ventura a missão da Igreja, da Congregação, da Província refletir a luz de Cristo em cada época da história e, por conseguinte, fazer resplandecer o seu Rosto diante das gerações do novo milênio? ( MI 16).
Que a fecundidade desta memória se enraíze em nossas vidas e floresça nos áridos sertões de nossa histórica geografia humana, clareando, realçando sempre mais, o Brilho da Glória Pascal, projetando nossos horizontes para tornar visível o nosso carisma.
A Ele, Gloria e Honra de toda a Congregação das Filhas do Amor Divino através de nossas Mártires, riqueza de Graças e Santidade para toda a Igreja.

2 comentários:

  1. PARABÉNS IRMÃ VILMA LÚCIA POR TÃO PROFUNDO E ELOUQUENTE PRONUNCIAMENTO SOBRE AS MÁRTIRES DO DRINA .ACOMPANHO AS NOTÍCIAS , E SINTO A EMOÇÃO DE TODAS AS IRMÃS QUE TIVERAM POSSIBILIDADE DESSA INESQUECÍVEL VIAGEM. CHEGUEI DA ITÁLIA SÁBADO PASSADO, PASSEI EM GROTA FERRATA NAQUELAS BELAS PAISAGENS PENSANDO NA CASA DAS IRMÃS E EM MADRE FIDELIS E IRMÃ BENIGNA NOSSA PATROINHA NO PLANO ESPIRITUAL , QUE TÃO BEM NOS FALAVAM DE GROTA FERRATA QUE PARECIA UM SONHO TÃO DISTANTE .ME EMOCIONEI AO VER AQUELAS PARAGENS ATÉ PEDI AO MOTORISTA PARA PASSAR DEVAGAR PERTO DAS CASAS RELIGIOSAS E IGREJA , ENTREI NA IGREJA E SENTI QUE MUITAS IRMÃS DEVERIAM SEMPRE IR A MISSA ALI NAQUELA BELISSIMA IGREJA . A VIDA É UM DOM DE DEUS E COMO TAL DEVE SER VIVIDA EM PROFUNDIDADE SEJA QUAL FOR O CHAMAMENTO EM QUE NOS ENCONTRAMOS.ESTRIVE EM PORTUGAL ,LISBOA ,ESPANHAE ITÁLIA , NA ITÁLIA ESTIVE EM ASSIS , PÁDUA VENEZA ,VISITEI MUITAS IGREJAS , MESQUITAS , CASTELOS E LUGARES SAGRADOS . ME APAIXONEI POR PORTUGAL, FÁTIMA , E MUITAS CIDADES .. COM SAUDADES MEU ABRAÇO SULAMITA .

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  2. Estou precisando do Hino das Mártires do Drina.
    Quem souber me repasse, por favor.

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