A Cabana: poesia com heresia
Prof.
Felipe Aquino
Chega
às telas do cinema o filme “A Cabana”, baseado no livro best-seller de mesmo
nome do escritor Willian P. Young, e muitos estão criticando ou adorando a
produção. Afinal, vale a pena assistir ou não?
Vamos partir da sinopse: “Um homem vive atormentado após perder
a sua filha mais nova, cujo corpo nunca foi encontrado, mas sinais de que ela
teria sido violentada e assassinada são encontrados em uma cabana nas
montanhas. Anos depois da tragédia, ele recebe um chamado misterioso para
retornar a esse local, onde ele vai receber uma lição de vida”.
Até aí não há problema algum, mas a questão é
que esta “lição de vida” que consta na sinopse é na verdade um encontro deste
homem atormentado com Deus. Não se trata de uma personificação de Deus como
realizada em filmes como “Todo Poderoso”, mas a apresentação da Santíssima
Trindade e a discussão sobre diversos pontos teológicos. E é aqui onde a
produção derrapa e derrapa feio.
Entendo que o primeiro ponto a ser colocado:
não é um filme católico. Eu diria mais, ainda que se apresente como um filme de
temática cristão, pelos diversos erros teológicos não o enquadraria como um
filme religioso, no máximo um filme com muita religiosidade (até porque vemos
no enredo que Deus seria contra as religiões).
O enredo é a tentativa de Deus em se
apresentar ao homem atormentado (Mack), curar suas feridas e estabelecer com
ele um relacionamento. Ficando apenas nestes pontos (porque da parte teológica
falarei mais adiante), os momentos entre Deus e o homem chegam a ser poéticos, que
pode nos levar a questionar a nossa relação com a Santíssima Trindade, a forma
como muitas vezes queremos conduzir as nossas vidas sem qualquer auxílio de
Deus, como O culpamos quando as coisas dão erradas, entre tantas outras
situações.
Ao mesmo tempo, temos pontos que chamaram a
atenção e muitos criaram confusão e outros que podem passar despercebidos que
são realmente danosos aos desatentos.
No filme, Deus Pai é vivido por uma mulher, a ótima atriz
Octavia Spencer. O fato de ser uma
“negra mulher gorda” foi alvo de muitas
reclamações. Não li o livro, mas no filme ficou bem claro para mim que Deus usa
a imagem desta mulher para facilitar o acesso a Mack, que quando criança teve
sérios problemas com seu pai que bebia muito e espancava a sua mãe e a ele
também, por isso preferiu não “aparecer” como um pai. Quando seu pai o
espancava, ele recebia carinho e atenção de uma mulher da cidade, que foi a
mesma usada por Deus para se aproximar do homem atormentado. Não se trata de
uma apresentação de que Deus é mulher, até porque em determinado momento do
filme Deus Pai toma a figura de homem quando entende ser necessário. Portanto,
acho uma discussão desnecessária neste aspecto.
Encontraram um ator judeu com a pele morena e
barba para fazer o papel de Jesus. Achei interessante este cuidado na produção
de buscar uma figura que poderia se parecer etnicamente com o Cristo.
Já o Espírito Santo, no filme chamado de
Sarayu, é protagonizado por uma atriz japonesa que aparece em muitos momentos
com um brilho em sua volta, com a intenção de indicar que é um espírito. Uma
apresentação fraca desta pessoa da Santíssima Trindade, não por ser uma mulher,
mas porque nem de longe lembra o consolador e inflamador das almas.
ERROS
TEOLÓGICOS
1. Humanidade de Cristo: no filme Jesus é retratado como humano, apenas humano. Ora,
sabemos que Cristo, Deus como o Pai e o Santo Espírito, ainda que de natureza
divina se fez homem, ao contrário do que o filme tenta nos apresentar. Jesus
Cristo não era humano, mas se fez homem e assumiu novamente sua condição divina
após sua ressurreição.
2. Pecado: no filme Deus não pune o pecado porque este já é uma punição. No
Catecismo da Igreja Católica é claro que uma das penas do pecado é a privação
vida eterna (§ 1472) e condenação ao inferno, o que no filme deixa a entender
que Deus não conseguiria condenar o homem ao inferno em razão de seu amor de
Pai.
3. O Pai foi crucificado com o
Filho: outro grande erro. Apenas Jesus Cristo foi crucificado. Mesmo
que o Pai tenha sofrido ao ver seu Filho tratado como foi, não que tenha sido
pregado junto com Ele.
4. Cristo não quis religião: Jesus nasceu judeu, viveu como judeu e morreu como tal, assim
como disse claramente que não se fez homem para abolir a Lei, mas para dar
pleno cumprimento à ela (Mt 5, 17-18), além de que diz textualmente que Pedro
será a pedra em que edificará a sua Igreja (Mt 16, 18). O filme tenta
relativizar estes conceitos para fazer acreditar que Jesus não queria criar uma
religião, o que não é verdade.
5. O homem foi criado para ser
amado: outro erro, pois sabemos que o homem foi criado para amar
primeiro a Deus e depois ao próximo como a si mesmo. Não foi criado para ser
amado, mas para amar e servir a Deus (Catecismo da Igreja Católica, 358).
Os conceitos apresentados no filme podem
criar uma grande confusão na cabeça dos desavisados, ao mesmo tempo em que
poderá reforçar alguma ideia errada já existente. Mesmo com a bela mensagem de
que Deus nos ama e quer curar nossas feridas, o filme cai no mesmo erro criado
pelo autor do livro em tentar destruir as religiões e criar um deus que não
existe e propagar mentiras com cara de teologia.
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