PEREGRINA DA SAUDADE
Durante a celebração de uma Missa em Ação de Graças pelo aniversário do Educandário Nossa Senhora das Vitórias (ENSV), em Assu/RN, a ex-aluna Georgia Karina de Sá Leitão Macedo proferiu o seguinte discurso emocionando a todos os presentes:
Querida família ENSV!
Convido a todos para
fazermos uma viagem na “Peregrina da Saudade”.
“Saudade... Passado que
se faz presente. Decorridos 80 anos da fundação do Educandário Nossa Senhora
das Vitórias, gerações de oito décadas se encontram para se congratularem,
recordarem um passado feliz e com certeza abraçarem ex-colegas de classe do
antigo primário e ginasial.
Convido todos os
presentes a mergulharem comigo nas lembranças do que vivemos um dia, neste “Templo
da Luz da Verdade”. Convido também a deixar que os nossos corações tomem posse
da felicidade de estarmos aqui, revivendo lembranças de um convívio de
brincadeiras saudáveis, travessuras de uma infância irrequieta e encantos de
uma adolescência sonhadora.
Vamos fazer de conta que
ontem é hoje e no nosso imaginário vivamos tudo de novo.
Madre Josefina, gaúcha,
trabalhadora e rigorosa, dirigia a Congregação e o alunado. Cada turma tinha
uma mestra. A minha, para nossa felicidade foi a Irmã Ernestina. Exigente,
organizada, cuidava de todas e de cada uma com determinação e desvelo. Também
era professora de Canto Orfeônico, piano e acordeom.
As professoras eram todas
Irmãs do Amor Divino. Lembro bem das que faziam parte do meu tempo: Irmãs
Margarida, Elizabeth, Albertina, Valéria, Leônia, Gilberta, Edilberta,
Estanislava, Cecília, Madalena, Euzébia, Anísia, Geórgia, Ester, Evelina,
Tarcísia, Sofia, Flávia, Letícia ede muitas outras cujos nomes me fogem a
memória.
Toca o sino. É início da
aula. Enfileiradas, seguimos para sala de aula e iniciamos as atividades,
diariamente, com uma oração matinal.
Nossas mestras
responsáveis pela nossa formação eram verdadeiras “mães desveladas,
bandeirantes da nossa instrução”. O currículo proporcionava mesmo uma educação
integral, desde os conteúdos das disciplinas básicas até economia doméstica.
Reporto-me aos idos de 1956 a 1963.
Grupos organizados com
Cruzada, a JEC, os retiros e o grêmio contribuíram para o nosso crescimento
espiritual, organizacional e participativo. Todos foram de relevante
importância para a formação da nossa personalidade, espiritualidade e cidadania.
Às nossas inesquecíveis mestras, o nosso preito de gratidão.
Dia 7 de setembro participávamos
do desfile cívico. Alunas e alunos do Educandário desfilavam garbosamente, sob
a batuta de irmã Leônia e a cadência de uma banda que se ainda hoje fecharmos
os olhos, talvez consigamos ouvir o rufar dos tambores e dos tarois. O colégio
tinha a mais bela bandeira do Brasil, que os meus olhos já puderam ver. Num
cetim verde, amarelo azul e branco tremulava pelas ruas da cidade, arrancando
os aplausos de todos para o pendão auriverde e para a porta bandeira escolhida
entre as mais belas alunas.
Excursões e passeios
faziam parte das atividades recreativas do colégio. Todo ano íamos a Tibau, de
mixto e voltávamos no mesmo dia tão bronzeadas, que algumas vezes foi
constatado queimadura de 2º grau. Ninguém usava protetor solar, pois à época
nem conhecíamos por aqui. No cronograma dos passeios havia sempre um da minha
turma, para a Fazenda Poaçá. Minha saudosa mãe arrumava tudo. Ela adorava
receber a criançada.
Mas, lembranças mesmo que
marcaram, foram as festinhas no colégio, os flertes e os primeiros namoros.
Tudo muito escondido. Aí de nós se uma das irmãs descobre.... Ficar sem
recreio, baixar a nota de comportamento e ir para a cafua eram algumas das punições das quais muitos não escaparam. Eu
nunca tirei boa nota de comportamento, nem nunca me destaquei nos primeiros
lugares no desempenho escolar como a minha irmã Gorete, que chegou a ser
condecorada. Recordo-me de que certa vez, fui convidada para protagonizar uma
peça de teatro por nome “Os Morangos”, cheguei a negociar com Irmã Edilberta o
papel por um 10 de comportamento, o que foi acatado e dessa forma obtive, pela
primeira vez, a nota máxima na caderneta. Tinha, das minhas mestras, a fama de
inteligente, rebelde e líder. Qualidades que me acompanharam pelo resto da vida
e que talvez tenham contribuído para a realização dos meus sonhos e objetivos.
A entrega da caderneta,
que funcionava como boletim era um ato solene. Nós comparecíamos apreensivas,
porém vestindo farda de gala. Linda! As meninas de saia de tropical azul
marinho, pregueada, blusa de fustão de seda, mangas compridas, boina azul
marinho, meia ¾ e sapato de verniz colegial. Meninos de calças curtas, também
de tropical azul marinho e camisa branca formavam um belo conjunto no salão de
festa, bem ao lado da capela.
O respeito e mesmo o medo
das freiras permeava por todas nós, principalmente pelas mais rebeldes. Toda
hora nos deparávamos com as irmãs elegantemente vestidas de hábito preto, a
quem saudávamos dizendo: “louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”. Ao que as
irmãs respondiam: “para sempre seja louvado”.
Navegamos, portanto, no
rio das recordações que corre no coração da nossa memória. E memória tem
coração? Creio que sim. Sentimento não se armazena nas cavidades de um músculo,
nas coronárias de um coração de carne, mas no recôndito da alma, na memória
sentimental. Em meio a tantos e tantas ex-alunas, com certeza, alguém lembra do
vizinho de carteira, do colega mais estudioso, da colega peixinho, do mais
esperto na cola e do que foi mais amigo. Alguns, como eu, acalentam lembranças
mais distantes; outros, lembranças de ontem. Outros, ainda, permanecem neste
colégio, trabalhando ou estudando, desfrutando da modernidade que com certeza
já se instalou na proposta pedagógica deste colégio e no projeto educacional da
instituição. Porém, não desfrutam dos melhores momentos que nós, ex-alunas,
tivemos o prazer de compartilharmos juntas.
Chegamos, finalmente, ao
término desta nossa retrospectiva. Uma homenagem sincera e carinhosa presto a
minha querida mestra, Irmã Ernestina, que soube me repreender nos momentos
necessários, me dar atenção quando precisei e me deu lições que carrego comigo
ao longo da minha vida. Uma palavra de saudade aos colegas de turma e em
particular às minhas primas, Neide, Magui e Edilva. Uma lágrima sentida pela
colega Antônia Alnê, por Vital, meu saudoso primo e Arnóbio, meu querido amigo.
Os três partiram do nosso convívio para avida eterna, mas em cada recanto deste
inesquecível colégio há uma lembrança marcante da sua passagem por aqui. Meu
abraço a todos, e que Nossa Senhora das Vitórias nos abençoe. ”
Foram
com essas palavras de amor e de saudade que a minha saudosa tia – Niná Ribeiro
de Macêdo Rebouças – se pronunciou por ocasião do Jubileu de Carvalho do
Educandário Nossa Senhora das Vitórias.
Hoje,
estando ela na Vida Eterna, julgamos de bom alvitre repetir tal pronunciamento,
saudando a sua venerável memória, ratificando o mesmo sentimento de gratidão
que permanece como viva chama no coração de todos os ex-alunos desta casa de
ensino.
Parabéns Educandário!
Agora
como ex-aluna, presto uma homenagem sincera e carinhosa a minha alfabetizadora
– Ir. Silvéria, na pessoa dela, saúdo as demais irmãs e professores que
contribuíram com a minha formação.
Em
nome das colegas Josiany, Joelma e Georgiana – “as beatas“ – como dizia
Nelsinho (não deixando também de me intitular), saúdo os demais colegas que
caminharam conosco durante os anos de 1979 a 1987.
Como
ex-professora, agradeço a Ir. Marli, por ter acreditado na minha capacidade de
colaborar com a formação dos novos discentes do Educandário.
Então
hoje, desejo a todos que fazem o Educandário Nossa Senhora das Vitórias, um
caminho de luz. Pois somos o TEMPLO EM QUE A LUZ DA VERDADE É FAROL QUE NOS
GUIA E CONDUZ...
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