sábado, 22 de abril de 2017


  PEREGRINA DA SAUDADE

Durante a celebração de uma Missa em Ação de Graças pelo aniversário do Educandário Nossa Senhora das Vitórias (ENSV), em Assu/RN, a ex-aluna Georgia Karina de Sá Leitão Macedo proferiu o seguinte discurso emocionando a todos os presentes:


Querida família ENSV!

Convido a todos para fazermos uma viagem na “Peregrina da Saudade”.

“Saudade... Passado que se faz presente. Decorridos 80 anos da fundação do Educandário Nossa Senhora das Vitórias, gerações de oito décadas se encontram para se congratularem, recordarem um passado feliz e com certeza abraçarem ex-colegas de classe do antigo primário e ginasial.

Convido todos os presentes a mergulharem comigo nas lembranças do que vivemos um dia, neste “Templo da Luz da Verdade”. Convido também a deixar que os nossos corações tomem posse da felicidade de estarmos aqui, revivendo lembranças de um convívio de brincadeiras saudáveis, travessuras de uma infância irrequieta e encantos de uma adolescência sonhadora.

Vamos fazer de conta que ontem é hoje e no nosso imaginário vivamos tudo de novo.
Madre Josefina, gaúcha, trabalhadora e rigorosa, dirigia a Congregação e o alunado. Cada turma tinha uma mestra. A minha, para nossa felicidade foi a Irmã Ernestina. Exigente, organizada, cuidava de todas e de cada uma com determinação e desvelo. Também era professora de Canto Orfeônico, piano e acordeom.

As professoras eram todas Irmãs do Amor Divino. Lembro bem das que faziam parte do meu tempo: Irmãs Margarida, Elizabeth, Albertina, Valéria, Leônia, Gilberta, Edilberta, Estanislava, Cecília, Madalena, Euzébia, Anísia, Geórgia, Ester, Evelina, Tarcísia, Sofia, Flávia, Letícia ede muitas outras cujos nomes me fogem a memória.

Toca o sino. É início da aula. Enfileiradas, seguimos para sala de aula e iniciamos as atividades, diariamente, com uma oração matinal.
Nossas mestras responsáveis pela nossa formação eram verdadeiras “mães desveladas, bandeirantes da nossa instrução”. O currículo proporcionava mesmo uma educação integral, desde os conteúdos das disciplinas básicas até economia doméstica. Reporto-me aos idos de 1956 a 1963.

Grupos organizados com Cruzada, a JEC, os retiros e o grêmio contribuíram para o nosso crescimento espiritual, organizacional e participativo. Todos foram de relevante importância para a formação da nossa personalidade, espiritualidade e cidadania. Às nossas inesquecíveis mestras, o nosso preito de gratidão.

Dia 7 de setembro participávamos do desfile cívico. Alunas e alunos do Educandário desfilavam garbosamente, sob a batuta de irmã Leônia e a cadência de uma banda que se ainda hoje fecharmos os olhos, talvez consigamos ouvir o rufar dos tambores e dos tarois. O colégio tinha a mais bela bandeira do Brasil, que os meus olhos já puderam ver. Num cetim verde, amarelo azul e branco tremulava pelas ruas da cidade, arrancando os aplausos de todos para o pendão auriverde e para a porta bandeira escolhida entre as mais belas alunas.

Excursões e passeios faziam parte das atividades recreativas do colégio. Todo ano íamos a Tibau, de mixto e voltávamos no mesmo dia tão bronzeadas, que algumas vezes foi constatado queimadura de 2º grau. Ninguém usava protetor solar, pois à época nem conhecíamos por aqui. No cronograma dos passeios havia sempre um da minha turma, para a Fazenda Poaçá. Minha saudosa mãe arrumava tudo. Ela adorava receber a criançada.

Mas, lembranças mesmo que marcaram, foram as festinhas no colégio, os flertes e os primeiros namoros. Tudo muito escondido. Aí de nós se uma das irmãs descobre.... Ficar sem recreio, baixar a nota de comportamento e ir para a cafua eram algumas das punições das quais muitos não escaparam. Eu nunca tirei boa nota de comportamento, nem nunca me destaquei nos primeiros lugares no desempenho escolar como a minha irmã Gorete, que chegou a ser condecorada. Recordo-me de que certa vez, fui convidada para protagonizar uma peça de teatro por nome “Os Morangos”, cheguei a negociar com Irmã Edilberta o papel por um 10 de comportamento, o que foi acatado e dessa forma obtive, pela primeira vez, a nota máxima na caderneta. Tinha, das minhas mestras, a fama de inteligente, rebelde e líder. Qualidades que me acompanharam pelo resto da vida e que talvez tenham contribuído para a realização dos meus sonhos e objetivos.

A entrega da caderneta, que funcionava como boletim era um ato solene. Nós comparecíamos apreensivas, porém vestindo farda de gala. Linda! As meninas de saia de tropical azul marinho, pregueada, blusa de fustão de seda, mangas compridas, boina azul marinho, meia ¾ e sapato de verniz colegial. Meninos de calças curtas, também de tropical azul marinho e camisa branca formavam um belo conjunto no salão de festa, bem ao lado da capela.

O respeito e mesmo o medo das freiras permeava por todas nós, principalmente pelas mais rebeldes. Toda hora nos deparávamos com as irmãs elegantemente vestidas de hábito preto, a quem saudávamos dizendo: “louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”. Ao que as irmãs respondiam: “para sempre seja louvado”.

Navegamos, portanto, no rio das recordações que corre no coração da nossa memória. E memória tem coração? Creio que sim. Sentimento não se armazena nas cavidades de um músculo, nas coronárias de um coração de carne, mas no recôndito da alma, na memória sentimental. Em meio a tantos e tantas ex-alunas, com certeza, alguém lembra do vizinho de carteira, do colega mais estudioso, da colega peixinho, do mais esperto na cola e do que foi mais amigo. Alguns, como eu, acalentam lembranças mais distantes; outros, lembranças de ontem. Outros, ainda, permanecem neste colégio, trabalhando ou estudando, desfrutando da modernidade que com certeza já se instalou na proposta pedagógica deste colégio e no projeto educacional da instituição. Porém, não desfrutam dos melhores momentos que nós, ex-alunas, tivemos o prazer de compartilharmos juntas.

Chegamos, finalmente, ao término desta nossa retrospectiva. Uma homenagem sincera e carinhosa presto a minha querida mestra, Irmã Ernestina, que soube me repreender nos momentos necessários, me dar atenção quando precisei e me deu lições que carrego comigo ao longo da minha vida. Uma palavra de saudade aos colegas de turma e em particular às minhas primas, Neide, Magui e Edilva. Uma lágrima sentida pela colega Antônia Alnê, por Vital, meu saudoso primo e Arnóbio, meu querido amigo. Os três partiram do nosso convívio para avida eterna, mas em cada recanto deste inesquecível colégio há uma lembrança marcante da sua passagem por aqui. Meu abraço a todos, e que Nossa Senhora das Vitórias nos abençoe. ”

Foram com essas palavras de amor e de saudade que a minha saudosa tia – Niná Ribeiro de Macêdo Rebouças – se pronunciou por ocasião do Jubileu de Carvalho do Educandário Nossa Senhora das Vitórias.
Hoje, estando ela na Vida Eterna, julgamos de bom alvitre repetir tal pronunciamento, saudando a sua venerável memória, ratificando o mesmo sentimento de gratidão que permanece como viva chama no coração de todos os ex-alunos desta casa de ensino.
Parabéns Educandário!
Agora como ex-aluna, presto uma homenagem sincera e carinhosa a minha alfabetizadora – Ir. Silvéria, na pessoa dela, saúdo as demais irmãs e professores que contribuíram com a minha formação.
Em nome das colegas Josiany, Joelma e Georgiana – “as beatas“ – como dizia Nelsinho (não deixando também de me intitular), saúdo os demais colegas que caminharam conosco durante os anos de 1979 a 1987.
Como ex-professora, agradeço a Ir. Marli, por ter acreditado na minha capacidade de colaborar com a formação dos novos discentes do Educandário.
Então hoje, desejo a todos que fazem o Educandário Nossa Senhora das Vitórias, um caminho de luz. Pois somos o TEMPLO EM QUE A LUZ DA VERDADE É FAROL QUE NOS GUIA E CONDUZ...







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