domingo, 23 de setembro de 2012

ESPECIAL 1 Ano Beatificação Mártires do Drina (3)



CINCO FILHAS DO AMOR DIVINO
MÁRTIRES
O principal objetivo deste artigo é a apresentação do histórico da vida das cinco mártires. Não se tem a pretensão de aprofundar aspectos geográficos e históricos da região sudoeste da Europa. Busca-se, sim, contextualizar ainda que suscintamente a região na qual ocorreu o martítio das 05 Filhas do Amor Divino, chamadas Mártires do Drina, no decorrer da Segunda Guerra Mundial, na Bósnia.
Além de vários outros países, a Bósnia, a Sérvia e a Croácia, que aqui entram em questão, fazem parte da Península Balcânica. Este é o nome histórico e geográfico para designar a região sudoeste da Europa, que se estende do leste da Sérvia até ao mar Negro. Esta Península é um dos principais caminhos entre a Ásia e a Europa. É uma das regiões mais conturbadas da Europa, e isso há muitos séculos. Uma série de conflitos marca a história da região.
A Serva de Deus Madre Francisca Lechner, Fundadora da Congregação das Filhas do Amor Divino, recebeu do Arcebispo Josef Stadler o convite para a abertura de uma Comunidade de Religiosas em Sarajevo, Bósnia. Após os trâmites legais, a própria Madre Francisca e duas Irmãs partiram de Viena, Áustria, no dia 24 de abril de 1882, e chegaram a Sarajevo no dia 28 do mesmo mês.
Em Sarajevo as Irmãs trabalhavam em escolas e acolhiam alunas internas e crianças órfãs. Rapidamente seu trabalho foi reconhecido e ganhou o prestígio da população. A missão das Filhas do Amor Divino foi se expandindo, em Sarajevo e arredores, com o trabalho abnegado e generoso das Irmãs. Para atender a demanda da missão, foi necessário realizar novas fundações.
Assim, em 1911, em Pale, localidade distante em torno de 18 km, de Sarajevo, abriram um convento, “Casa de Maria”. Inicialmente esta casa era destinada para o repouso das religiosas que trabalhavam no Instituto São José, em Sarajevo, e para a recuperação de doentes. Entretanto, a “Casa de Maria” foi recebendo credibilidade e se tornou famosa pelas obras de caridade exercidas em favor de todos os necessitados que batiam às suas portas, particularmente os vizinhos ortodoxos que a batizaram de “o hospital dos pobres”. Pale era um corredor de muitos transeuntes, pessoas que iam e retornavam de Sarajevo. Nesta casa também eram acolhidas pessoas, sem fazer distinção de etnia, cultura, cor, religião, que vinham de diferentes lugares. Ali recebiam alimentação e, não raras vezes, lugar para um repouso restaurador de energias para então seguir a viagem.
A cultura ocidental e oriental - e seus respectivos interesses políticos e econômicos - chocava-se seguidas vezes. A Segunda Guerra Mundial foi particularmente trágica na Bósnia oriental. O Rio Drina estabelece o limite entre as duas partes, que hoje divide a Bósnia da Sérvia. Houve um conflito acirrado entre os sérvios e a população muçulmana e católica da Bósnia oriental. Estes povos foram duplamente provados pelas tragédias; em primeiro lugar, porque um grande número de civis inocentes perdeu a vida; em segundo, porque os que sobreviveram ao massacre tiveram de abandonar o seu ambiente e foram forçados a fugir.
Havia duas facções que se atritavam: os četnik”- membros voluntários da tropa armada do Estado da Sérvia. É um grupo irregular com conotação terrorista contra os povos não Sérvios; os “uštasa” - croatos revolucionários da direita. Aqueles multiplicavam os ataques às populações civis católicas e muçulmanas. Os incêndios às vilas indefesas, as torturas mais desumanas e os assassinatos em massa, o corte das linhas de comunicação,... faziam parte da ordem do dia. Estes, apoiados pelas forças armadas de ocupação ítalo-germânica, instituíam, a exemplo destes, os campos de concentração onde perderam a vida dezenas de milhares de opositores ao regime, mas também civis inocentes.
Neste ambiente conflituoso, no qual um povo se rebela contra outro povo, uma crença contra outra crença, uma vila contra outra vila, um homem contra outro homem, e, por vezes, um irmão contra outro irmão - filhos de uma mesma mãe, as Irmãs viviam e doavam a sua vida em favor do próximo e experimentavam a dor do povo indefeso e inocente. Estão aí os dias do horror, da morte, do sofrimento e das lágrimas.
As cinco Irmãs Filhas do Amor Divino que formavam a comunidade “Casa de Maria”, em Pale, foram: M. Jula Ivanišević - croata, nascida em 1893; M. Berchmana Leidenix - austríaca, nascida em 1865; M. Krizina Bojanc - eslovena, nascida em 1885; Irmã M. Atonija Fabjan - eslovena, nascida em 1907; M. Bernadeta Banja - de origem húngara, nascida na Croácia em 1912.
O ódio obscurece corações e consciências, e sem razão golpeia a dignidade humana, a dignidade da mulher, da religiosa. Por isso, era perigoso viver em Pale. Diante das sugestões de abandonar o povo, as Irmãs que ali viviam decidiram permanecer no meio dele, para compartilhar sua sorte e continuar a testemunhar-lhes o Amor Divino. Como era de se esperar, em 11 de dezembro de 1941, os soldados da milícia četnik aprisionaram as Irmãs, saquearam e incendiaram o convento.
Assim iniciou a via-sacra dessas cinco Irmãs. Elas foram obrigadas a marchar, durante 04 dias e 04 noites, pelos caminhos da montanha Romanija, com frio e na neve, sem veste adequada, com interrogatórios, ameaças e ofensas. Irmã Berchmana, com 76 anos, não podendo prosseguir a caminhada, foi levada a Sjetlina, onde se recuperaria do cansaço. Conforme o combinado, ela deveria ser levada também para Goražde, a fim de se juntar ao grupo de suas coirmãs, o que não aconteceu. Consta que ela foi morta no dia 23 de dezembro, no bosque de Sjetlina.
As demais Irmãs tiveram de continuar a sua caminhada até Goražde, percorrendo cerca de 65 km. Ali chegaram na tarde de 15 de dezembro e foram levadas à caserna (2° andar do quartel), próxima ao rio Drina. À noite, os četnik,completamente embriagados, invadiram o seu quarto, com intenção de violentá-las, pediram que renunciassem à vida religiosa. Em troca, garantir-lhes-iam a vida, trabalho e graduação militar. Elas, porém, resistiram fortemente e declararam que estavam prontas a morrer antes de trair a Deus e a própria consagração.
Em defesa da dignidade e honrando o voto de castidade, estas conseguiram escapar das mãos dos agressores. Irmã Jula, Superiora da Comunidade, para evitar o estupro, abriu a janela e convidou as demais Irmãs a segui-la. Com a invocação “Jesus, salva-nos!”, lançou-se no vazio e as outras três fizeram o mesmo. Os soldados furiosos, sentindo-se derrotados, às pressas, desceram as escadas até o local em que estavam caídas as Irmãs e, com muitíssimos golpes de faca, mataram-nas. Depois, chutaram seus corpos até as margens do rio Drina. Um soldado, também ferido por este grupo, viu como cada uma delas, antes de morrer, fez o sinal da cruz!
As Irmãs Jula, Berchmana, Krizina, Antonija e Bernadeta, conhecidas como as Mártires do Drina, verdadeiras missionárias na Bósnia sofrida, serviram a Deus e aos pobres com generosidade e amor desinteressado. Ao derramarem seu sangue, confirmaram a fidelidade a Deus. As cinco Mártires são extraordinários modelos de fé a Deus e de verdadeiro amor aos necessitados. O ato heróico dessas Filhas do Amor Divino teve o reconhecimento oficial da Igreja. As servas de Deus Mártires do Drina serão beatificadas em Sarajevo, Bósnia-Herzegovina, dia 24.09.2011. O sangue derramado seja semente de novos cristãos comprometidos e de novas vocações. Que elas intercedam a Deus pelas nossas necessidades.

Bibliografia consultada
HORVAT, Bernarda. A fidelidade cotidiana das Servas de Deus Mártires do Drina, 2011.
BAKOVIC, Anto. As Mártires do Drina. Tradução de Luzia Valladão Ferreira. Natal: Proneves, 2000.

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