sábado, 17 de março de 2018


D. Nivaldo Monte – Teólogo da Ternura!

 Dom Nivaldo Monte continua vivo entre nós! O Seu amor pela Igreja e pelo seu redil, prossegue na eternidade. Só a saudade e a ternura podem inspirar as definitivas lembranças que temos dele como um afetuoso Pastor, homem bom, erudito, simples, orante, terno, vazio de si, mas repleto de totalidade! A lembrança de seus gestos sinceros colore nossos dias com carisma e afeto, eternizando o privilégio de tê-lo por perto. O seu legado tem um triplo aspecto: ser pastor, ser poeta e ser, de alguma forma, um dos precursores da teologia da ternura.

Como teólogo da ternura, um afetuoso Pastor, um santo, um irmão e um amigo, conseguia formatar os corações, com sábia e pedagógica sensibilidade. Sempre muito próximo de suas ovelhas, reservava para o rebanho, todo o seu carinho e a maior ternura de seu coração. A ternura é a norma de sua práxis, pura benevolência e afabilidade. É o que a experiência de sua amizade traz de iluminante e de esperançoso. Exatamente porque dá forma à nossa relação com Deus, com a criação e as criaturas. Ama-se a Deus ao amar um amigo e só se ama de verdade um amigo quando se ama a Deus. E para amar e ser amigo de Deus “posso sê-lo agora mesmo”, disse Santo Agostinho.

Para D. Nivaldo, todas as coisas que o cercavam tinham o seu encanto especial: da folha seca, esquecida à beira da estrada, ao esplendor do céu a cintilar de estrelas. Incansável nas buscas e descobertas das belezas escondidas na face das coisas e dos seres. Em cada amanhecer via a misericórdia de Deus renovando as Suas obras. Assim, ele restabelecia suas esperanças ratificando a profecia de Jeremias, hoje e sempre está se renovando, sua grande fidelidade (Lm. 3, 23). Sim, foi assim que ele amou: pela simples e divina alegria de amar.

Como poeta é um místico, um contemplativo. Foi no Monte da contemplação, que se tornou poeta, menestrel de todos os amores, cantando madrigais a todos os enamorados de Deus e despertando ternuras esquecidas nas almas. Um poeta profundamente místico, via com olhos de admiração o sentido e a beleza que se encerram na realidade de cada dia. Descobrir os encantos, para ele, era como compor uma beleza a mais; uma nova alegria para a sinfonia ideal da criação, na existência feliz que recebeu de Deus” (Minha Cidade Natal e eu, p. 46). Tinha uma forma bem própria para falar de Deus, assim como o amado fala da amada. Quase que espontaneamente, deixava escapar a criança que guardava em seu coração. Não sabia esconder o amor que o fazia viver! E como que resgatando a linguagem infantil da ternura, brindava-nos com as mais pueris imagens do carinho. E quando diante das dificuldades e das dores humanas, acolhia tudo afirmando: a dor, eis a grande sentinela da vida (A Dor, p.7). Para nós, ele é uma inspiradora referência. Essa memória desperta em nossos corações, um grato reconhecimento, pode até não aparecer, mas é profundamente presente a sua presença! 

Para quem o conheceu, é fácil recordar o ressoar de sua voz dizendo: A presença só é real e verdadeira, quando sentimos falta dela! Portanto, fica fácil repercutir suas palavras: Como sentimos falta dele...! Hoje, festejando o centenário de seu nascimento, bebemos do Amor desta ausência – presença e, por isto, parece que o ar fica florido de memórias; a impressão é de que ele vem surgindo todo paramentado de eterno, por entre litúrgicas plantas e flores, celebrando num místico altar em cascatas de carinhosas preces e bênçãos. E de repente, a sua voz vibrante de afetuosa inteligência, ecoa em esvoaçantes recordações, memórias que geram em nossa vida, um novo começo no qual a sua presença é mais real e verdadeira.

O seu legado continua vivo, como potente luzeiro, iluminando os escuros dos nossos caminhos na decifração do mistério da vida; refinando a nossa atenção para o essencial da realidade, muitas vezes ofuscada e inaudível; preservando-nos dos riscos da banalização do mistério. É um tesouro que conservamos em nossas almas como um verdadeiro mapa que nos leva ao segredo que ilumina a penumbra do Templo, o limiar do Reino do “Pai Querido”. Como ele gostava de dizer: “se o amor brilhar em nossos corações, chegaremos à meta de todos os destinos” (Gestos de Fadário, p. 34).  D. Nivaldo Monte, teólogo da ternura, afetuoso pastor, dom da paz e muito mais, um dom do céu, interceda, junto a Deus, por nós.        

Ir. Vilma Lúcia de Oliveira, FDC                         

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