quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

ESTA É A MINHA HISTÓRIA


Meu nome como Religiosa é Irmã M. Judith Vieira de Farias. Pertenço à Congregação das FILHAS DO AMOR DIVINO, fundada na Áustria por Madre Francisca Lechner.
            Nasci na pequena Vila de Desterro, então município da cidade de Teixeira, no Estado da Paraíba. Meu pai era agricultor e minha mãe costureira. Sou a quinta filha numa prole de oito filhos que meus pais criaram com amor e dedicação. Formávamos uma família pobre, mas, profundamente cristã, unida e feliz.
            Minha mãe cada ano tinha um filho. Após o nascimento do 5º filho, nasceu a pequena Marluce, que faleceu vítima de coqueluche aos dois anos de idade, doença que tem hoje cura mais fácil, porém, à época, era bastante perigosa e vitimava muitas crianças. Dois irmãos meus também faleceram em tenra idade. Depois continuou nascendo meninos e meus pais desejavam outra menina, provavelmente para substituir Marluce. Então, fizeram uma promessa (não sei a qual santo), para que nascesse uma menina. Na noite de Natal de 1935, na hora da Missa, eu nasci. Não haveria data melhor para eu nascer: dia em que se comemora o nascimento de Jesus Cristo, nosso Salvador. Fui batizada no dia 5 de fevereiro de 1936, recebendo o nome de Maria e logo em seguida consagrada a Nossa Senhora, como era costume na época. Eu até tinha uma madrinha de Consagração. Minha mãe me chamava “minha gaçuda Nita”(gaçuda=graciosa) e assim fiquei sendo chamada por todos da família: Nita.
            Depois nasceu Pedro e em breve minha mãe estava grávida outra vez. Não sei por qual motivo, as pessoas que a conheceram diziam que ela sempre afirmava: “Eu vou morrer neste parto.” Em janeiro de 1939, minha mãe começou a sentir os sintomas para o parto de um irmão que faleceu em seu ventre. Foram vários dias de sofrimento e a criança não nascia. Não havia socorro médico lá e as parteiras, em número de 7, estavam na nossa casa, dizendo ao meu pai que não havia necessidade de ir em busca de médico em Teixeira (a 3 quilômetros de distância), porque a criança nasceria em breve. Quando minha mãe teve febre, meu tio foi em busca do médico,que, ao chegar e verificar o quadro, disse para meu pai: “Você me chamou tarde demais, a criança já está morta há 7 dias.” Foi nesse parto que a família perdeu, ao mesmo tempo, um irmão e minha mãe; a esposa e um filho (para nosso pai). Portanto, aos 3 anos de idade, fiquei órfã. Meu irmão de apenas 11 meses – Pedro foi para a casa do meu avô e eu fui para a casa de minha tia e madrinha de batismo, Luzia Alves de Farias.
No processo do parto, minha mãe, ao ficar doente e sentir a morte se aproximando, chamou meu pai e pediu que ele cuidasse de mim e não me deixasse sofrer. Ela também tinha ficado órfã ainda recém nascida e havia sofrido muito da madrasta. Sua mãe também faleceu de parto. Meu pai procurou cumprir o que a ela prometera, sempre me protegendo.
Logo depois da morte de minha mãe, meu pai começou a nos preparar para uma futura substituta de nossa mãe. Ele dizia constantemente: “Sua mãe estava muito cansada e Nosso Senhor a levou para o céu, mas ela vai enviar uma pessoa para substituí-la, a qual vocês chamarão de “mamãe”, pois ela será a substituta de sua mãe” e o meu irmão mais velho repetia isto para mim.
Meu pai casou-se um ano depois, com uma jovem de 15 anos, criada com os avós e educada pelo Padre da Paróquia de Teixeira, que fundou uma escola em Desterro e dava assistência espiritual, aulas de formação e boas maneiras semanalmente na escola. Ela, apesar de muito jovem, foi sempre maravilhosa, cumprindo fielmente os deveres de esposa e mãe. Meu pai e ela eram muito unidos e felizes. Continuamos sendo uma família feliz.
Aos 7 anos fiz a Primeira Eucaristia. Meu pai me preparou cuidadosamente para este dia. Todas as noites, após o jantar ele me dava lições de catequese e doutrina, não lembro por quanto tempo. O certo é que fui preparada por ele para o meu primeiro encontro com Jesus Eucarístico.
Meu pai teve apenas 3 meses de escola, mas, sozinho, buscou sua própria formação intelectual. Lia muito e estimulava todos nós à leitura, assinando revistas, jornais e comprando livros bons para a nossa formação. Ninguém falava errado na minha casa, porque cada um corrigia o outro quando isto acontecia. Tínhamos a revista “Seleção”, muito apreciada por todos nós, livros, jornais e revistas que ele solicitava da Editora Vozes de Petrópolis, RJ.
Aos 12 anos nasceu minha primeira irmã, filha de meu pai e minha madrasta. A alegria que tive com seu nascimento é indescritível. Dois anos depois, nasceu a minha segunda irmã.
E assim fui crescendo e desenvolvendo o desejo de me dedicar à Vida Religiosa.
Desde a minha mais tenra infância, pensava seriamente em um dia dedicar minha vida ao Senhor. Eu tinha uma tia Religiosa da Congregação das Irmãs de Sta. Catarina de Sena. Aos 12 anos outros pensamentos vieram à minha mente e eu abandonei um pouco esta idéia. Tive namorados, mas no estilo da época: somente conversa, pois as moças tinham uma consciência muito forte da necessidade de guardar sua integridade perante a sociedade de Desterro que vigiava e velava pelas suas jovens. Para nós, isto era algo natural,
No dia que completei 15 anos, meu irmão Juvenal, que era meu amigo mais fiel, muito inteligente, uma voz lindíssima, após retornarmos das festividades natalinas da Vila, teve uma parada cardíaca (assim penso), ou aneurisma cerebral (não sabemos bem), falecendo, aos 21 anos de idade, após várias horas de intensa agonia, com fortes convulsões e muito sofrimento para toda a família. Ele desejava entrar na Ordem dos Franciscanos, mas não conseguiu o apoio necessário. Este acontecimento chocou-me profundamente. A partir daí, fui profundamente tocada pelo Senhor e decidi consagrar minha vida a Ele para sempre. Escrevi para minha tia freira expressando meu desejo. Recebi a resposta confirmativa, mas meu pai se recusou a permitir, porque tinha mágoas da família de minha mãe que o acusava como responsável pela sua morte. Mas a decisão estava tomada e eu não mais voltei atrás.
Depois de muito diálogo e busca, o mesmo sacerdote que colaborou na formação de minha madrasta, conseguiu uma vaga no Colégio Cristo Rei em Patos-PB, dirigido pelas Filhas do Amor Divino. Lá fiquei interna, mas como meu pai não podia pagar meus estudos e muito menos internato, trabalhava ajudando às Irmãs. Lá eu tinha várias primas ricas estudando internas, algumas delas minhas colegas de classe.
Após dois anos fui para Natal, iniciando lá minha formação como Candidata, Postulante, Noviça, etc. Foi assim que iniciei minha consagração a Deus e me preparei para meus primeiros Votos Religiosos.
Meu pai veio de Desterro para participar da solenidade dos meus Primeiros Votos. Foi a primeira vez que ele saiu daquela região onde morava.
Estando na Congregação, após um breve intervalo, continuei meus estudos. Sempre fui muito estudiosa, sempre conseguindo os primeiros lugares. Fiz o curso de Pedagogia, depois Teologia na Universidade Católica de Petrópolis, Teologia Maior no Seminário da Prainha em Fortaleza, juntamente com os Seminaristas. Sempre tive um carisma especial para ensinar e fui sempre muito querida dos alunos.
Depois de um longo período como professora, fui para a Inglaterra colaborar com as Irmãs que são poucas naquela Província e necessitam que outras Províncias enviem Irmãs para ajudá-las a continuar no seu apostolado. Lá tive experiências lindas, participando de um movimento com os jovens nas diversas escolas, junto com outros Religiosos, seguindo um Programa de evangelização e formação intenso, durante 3 anos, na região dos mineiros, onde me senti muito em casa. De lá fui para Roma, onde fiz o Curso de Teologia Espiritual na Universidade do Teresianum, pertencente à Ordem dos Carmelitas. Foi um período pleno de graças e bênçãos do Senhor.
Após vivenciar esta experiência, retornei ao Brasil, onde assumi a Direção da Escola Cônego Monte em Natal. Após 6 anos, fui novamente para a Inglaterra, onde permaneci por 3 anos na região de Norfolk. Lá fundei o grupo dos Associados Amor Divino e ensinava Religião nas classes dos anos 7,8 e 9. Foi uma experiência um pouco difícil para meu jeito de ser, uma vez que lá é a região da Rainha e o povo é bem mais aristocrático. Eu me sinto melhor no meio dos simples.
De volta outra vez ao Brasil, fundei os Associados do Amor Divino e a Juventude Amor Divino, um movimento de leigos que procuram viver a espiritualidade e o carisma de Madre Francisca Lechner, fundadora da Congregação das Filhas do Amor Divino.
Em 2009, estive por 3 meses nos Estados Unidos realizando um trabalho em uma de nossas Províncias – a Província São José – sobre nossa experiência com a Pastoral da Juventude e com a Pastoral Vocacional.
No momento sou Superiora da Comunidade Nossa Senhora das Vitórias em Assu, coordeno o movimento que fundei em toda a Província Nossa Senhora das Neves e ensino Antropologia Teológica na Faculdade Católica da PRONEVES.
Assumo tudo que me é confiado com muita responsabilidade, amor e alegria. Sinto-me feliz falando de Jesus Cristo e da minha Congregação. Sou muito solicitada para pregar retiros, fazer palestras, dirigir encontros etc.
Sinto-me querida das Irmãs, dos alunos de todas as idades e classes sociais.
Desde a morte do meu irmão, Jesus passou a ser o único da minha vida e a Ele peço a graça da perseverança até o final de minha vida.
Quero conservar a minha juventude interior e a minha alegria de viver sempre até o dia que Ele me chamar, quando desejo ir ao Seu encontro sorridente e feliz, consciente de que realizei o Projeto que Ele determinou para mim.

Assu, 25 de dezembro de 2013.
                                                                  Festa do NATAL DO SENHOR


Irmã M. Judith Vieira de Farias,FDC

            

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