NOSSA
SENHORA APARECIDA E O CASAMENTO
Na
celebração da Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida é
significativo
que o Evangelho fale do casamento em Caná, na Galileia. A
princípio podemos achar estranho e podemos nos perguntar: o que este Evangelho
tem a ver com Nossa Senhora Aparecida? No entanto, este Evangelho não somente
tem tudo a ver com a Senhora Aparecida, mas também com a missão da Virgem Maria
do desígnio divino da salvação da humanidade.
A presença
materna de Nossa Senhora nas bodas de Caná, nos ajuda a compreender a
importância da devoção mariana em nossas vidas. A Santíssima Virgem estava
presente na festa de casamento como que para simbolizar a sua presença materna
na vida da Igreja e de toda a humanidade, especialmente na constituição das
famílias. Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil, é nossa Mãe e está
atenta a todas as nossas necessidades.
O encontro
da pequena imagem de Nossa Senhora Imaculada Conceição nas águas do rio Paraíba
do Sul e a pesca milagrosa que se seguiu nos ajudam a compreender a solicitude
de Maria por cada um de seus filhos. Isto é o que vemos também nas bodas de
Caná. Pois, quando a Virgem percebeu que o vinho havia acabado, intercedeu
junto ao seu Filho: “Eles já não têm vinho” (Jo 2, 3). Jesus respondeu de forma
até mesmo um pouco rude, como que para provar a fé de sua Mãe: “Mulher, isso
compete a nós? Minha hora ainda não chegou” (Jo 2, 4). Apesar disso, a Virgem
Maria não deixou de confiar e disse aos serventes: “Fazei o que ele vos disser”
(Jo 2, 5).
Jesus então
ordena aos serventes: “Enchei as talhas de água” (Jo 2, 7). Eles obedeceram à
risca o pedido do Senhor, encheram todas as seis talhas até a boca. Este ato de
encher as talhas simboliza, em primeiro lugar, uma atitude de fé, mas também um
chamado a responder a Deus através da oração.
Os
serventes foram obedientes, primeiramente a Maria, depois a Jesus, e o milagre
da transformação da água em vinho aconteceu (cf. Jo 2, 8-10). Este primeiro
milagre de Jesus é muito significativo sob a ótica da cultura judaica. Pois, o
vinho faz parte da alimentação básica daquele povo e simboliza a alegria, que
não poderia faltar em uma festa de casamento. No entanto, mais do que
simplesmente suprir a falta do vinho, Jesus queria edificar a fé de seus
discípulos: “Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele” (Jo 2,
11). Da mesma forma, muitas vezes, Jesus e Maria realizam milagres em nossas
vidas para edificar a nossa fé.
A Virgem Maria e as necessidades espirituais - O primeiro milagre de Jesus nas bodas de Caná torna-se ainda mais
significativo se adentrarmos no seu sentido espiritual. Para tanto, recorremos
a Santo Tomás de Aquino para compreender o significado espiritual do
Matrimônio: “Quanto ao sentido místico, as núpcias significam a união entre
Cristo e a Igreja, o – grande sacramento” (Ef 5, 32) de que fala o Apóstolo.
Esse
matrimônio começou no útero da Virgem Maria, quando Deus Pai uniu a natureza
humana ao seu Filho, na união hipostática. O tálamo dessa união foi, portanto,
o útero da Santíssima Virgem: No sol colocou o seu tabernáculo” (Sl 18, 6). A
essas núpcias faz referência a Parábola do Grande Banquete (cf. Mt 22, 2ss): o
rei que casa o seu filho é Deus Pai que copula a natureza humana ao seu Verbo,
no útero da Virgem. Essa união se fez pública quando a Igreja se uniu a Ele
pela fé, como diz Os 2, 20: Desposar-te-ei na fé”, e se consumirá quando a
esposa, isto é, a Igreja, for introduzida no tálamo do esposo, que é a glória
celeste. Disso diz São João: Felizes os chamados à ceia de núpcias do cordeiro”
(Ap 19, 9).
Muito mais do que prover as necessidades materiais de um
casamento, que em si tem grande dignidade, Nossa Senhora quer nos ajudar a
participar de outra festa, que é a nossa união definitiva com Deus, no Reino
dos Céus. Nesse sentido, a Virgem quer nos revestir da veste nupcial (cf. Mt
22, 11), ou seja, quer nos purificar, lavar as nossas vestes e as alvejar no
sangue do Cordeiro (cf. Ap 7, 14).
Por causa de sua missão materna no desígnio de salvação da
humanidade, o “grande Dragão vermelho” (Ap 12, 3) se irritou contra a Mulher,
que simboliza a Virgem Maria, e veio fazer guerra ao resto de sua descendência,
aos que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus (cf. Ap 12,
17). Isto significa que Satanás, além da carne e do mundo, é inimigo daqueles
que obedecem ao Senhor. Mas, o Inimigo é também um dos meios que Deus usa para
a nossa purificação espiritual.
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