PALAVRAS PARA MINHA MÃE
Por Maria de Lourdes Farias
Não é
raro nos confrontarmos com o nosso íntimo, às vezes com o rigor de lembranças
vividas, outras com a maturidade forjada na dor e ainda, com o objetivo
profundo e determinado de encontrar saída.

A lei
da vida é implacável.
Se deixarmos passar, por um segundo, a oportunidade que nos acena veloz, nunca
mais ela passará outra vez.
Neste pensamento reportei-me a tempos idos; momentos inesquecíveis pela beleza da simplicidade onde a alegria, a pureza da inocência, as surpresas pelo desconhecido teciam belas e diferentes vidas na magia da felicidade e da liberdade, ou ceifavam almas pelo desolamento nas situações as mais diversas.
Casualmente,
deparei-me com esta imagem que me trouxe toda uma história de vida. (...)
Eu já
não morava em Desterro (...) e certo dia cheguei lá, não encontrei mamãe em
casa (ela morava sozinha naquele casarão...), mas eu sabia que a encontraria no
“roçado”, como chamávamos o sítio de papai, e me apressei para ir até lá, na
certeza de que voltaria com ela para casa.
Eu me
vi chegar ao rio que com tanto carinho nos acolhia nos momentos em que ele
recolhia todas as nossas dores, pensamentos, ideias e transformava tudo em
alegria, bonança, quando naquela água, para nós sagrada, entrávamos a brincar
ou trabalhar e te vi, minha mãe, ao longe, abafando a tua solidão tão
tumultuada pela dor num disfarce de “lavar roupas”... e me aproximei
apressadamente, numa atitude insuspeita de salva-vidas; e foi aí que me viste
chegar...
Tu me olhavas tão profundamente dentro dos meus
olhos... mas não arriscavas nenhuma palavra, nenhum gesto; permaneceste
fixamente, me confessando naquela atitude do náufrago que vê, num pedaço de
madeira que passa, a possibilidade de salvação... então cheguei mais perto, te
cumprimentei, querendo arrancar de ti a solidão e a dor que te abatia e te dei
a notícia seguinte: estou aqui para te falar que Nita, Terezinha e eu te
levaremos daqui em poucos dias. Precisamos apenas que guardes este segredo
contigo até lá. Baixaste então o olhar e me deste um sim apenas com uma
lágrima, daquelas tão presentes que desciam fácil pelo teu rosto abatido. (...)
E como a emoção daquele momento que contive em profundo silêncio, porque tu ainda não podias me ver como agora, permanece viva em minha alma! Poderei até esquecer tudo...menos este instante... (30/10/2016)
Mensagem que sai do íntimo da alma de quem a escreveu. Profunda, emocionante e sensível a quem a lê.
ResponderExcluirNita