quarta-feira, 4 de julho de 2012


REFLEXÃO PATRÍSTICA DIA 04/07/12

Do livro O Caminho da Perfeição, de Santa Teresa, virgem

(Cap. 30,1-5: Oeuvres complètes. Desclée de Brouwer, Paris, 1964, 467-468)
(Séc.XVI)

Venha a nós o vosso reino

Quem haverá, por mais irrefletido que seja, que, desejando fazer um pedido a uma
pessoa importante, não discuta consigo mesmo como lhe falará, de forma a lhe agradar e
não o aborrecer? Pensará também no que lhe irá pedir e para que fim, sobretudo quando
se trata de coisa tão importante, como a que nosso bom Jesus nos ensina a pedir. Na
minha opinião, é isso o mais fundamental.

Não poderíeis, Senhor meu, englobar tudo numa palavra e dizer: “Dai-nos, ó Pai, o que
for conveniente e adequado?” Assim nada mais seria preciso dizer a quem tudo conhece
com perfeição.

Isto na verdade, ó eterna Sabedoria, seria suficiente entre vós e vosso Pai, e foi assim
que orastes no Horto de Getsêmani. Vós lhe manifestastes vossa vontade e temor, mas
vos conformastes totalmente à sua vontade. Quanto a nós, Senhor meu, sabeis não
sermos tão conformados assim, como o fostes à vontade do Pai. Por esta razão, cumpre
pedir coisa por coisa. Deste modo, refletiremos antes se nos convém o que pedimos. Em
caso contrário, deixemos de pedi-lo. De fato, somos assim: se não nos for concedido o
que pedimos, este nosso livre-arbítrio não aceitará o que o Senhor nos der. Porque,
embora seja o melhor quanto o Senhor nos der, se não vemos logo o dinheiro na mão,
nunca pensamos ser ricos.
Por isso Jesus nos ensina a dizer as palavras com que pedimos a vinda de seu reino:
Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino. Admirai, minhas filhas, a
profunda sabedoria de nosso Mestre! Considero eu aqui – e para nós é bom entender – o
que pedimos com este reino. A majestade de Deus via que não podíamos santificar ou
glorificar como seria bom este santo nome do Pai eterno, de acordo como pouquinho
que podemos, a menos que sua Majestade não providenciasse, dando-nos aqui o seu
reino. Por isso o bom Jesus pôs um pedido ao lado do outro. Para entendermos o que
pedimos e quanto interessa pedirmos, importuna e ardentemente, e, além disso, fazer
tudo que estiver a nosso alcance para satisfazer àquele que no-lo dará, quero expor-vos
aqui o que sobre isso compreendo.

O supremo bem que me parece existir no reino dos céus é que já não se dá valor às
coisas da terra. Sendo assim, há um alegrar-se da alegria de todos, uma paz perpétua,
uma satisfação imensa em si mesmos por ver que todos engrandecem ao Senhor e
bendizem seu nome, sem ninguém mais o ofender com seus pecados. Todos o amam e
em seu coração não anseiam nada mais do que amá-lo, nem podem deixar de amá-lo,
porque o conhecem. É assim que o deveríamos amar também aqui, embora não o
possamos com toda esta perfeição e em sua essência. Pelo menos, nós o amaríamos
muito mais do que o amamos, se melhor o conhecêssemos.

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