sexta-feira, 6 de julho de 2012


REFLEXÃO PATRÍSTICA DIA 06/07/12

Do livro sobre a predestinação dos santos, de Santo Agostinho, bispo

(Cap.15,30-31:PL44,981-983)
(Séc.V)

Jesus Cristo, da linhagem de Davi segundo a carne

Esplêndida luz da predestinação e da graça é o próprio Salvador, o mediador entre Deus
e os homens, o homem Cristo Jesus. Para que isto acontecesse, como o adquiriu a
natureza humana que nele existe? Com que precedentes méritos de obras ou de fé?
Respondam-me, por favor: aquele homem, para ser assumido na unidade de pessoa pelo
Verbo coeterno com o Pai e ser o Filho unigênito de Deus, o que fez para merecê-lo?
Qual o bem que precedeu? Que fez antes, que acreditou, que pediu, para chegar a esta
indizível excelência? Na verdade, não foi pela ação do Verbo, ao assumi-lo, que este
mesmo homem, desde que começou a existir, começou a ser o Filho único de Deus?
Manifeste-se assim a nós, em nossa Cabeça, a fonte de graça, donde ela se vai difundir
por todos os membros segundo a medida de cada um.

Com efeito, a graça pela qual, no início de sua fé, um homem se torna cristão, é a
mesma pela qual esse homem, desde sua origem, foi feito Cristo. Assim pelo mesmo
Espírito renasceu aquele cristão e nasceu este o Cristo. Pelo Espírito, faz-se em nós a
remissão dos pecados, por esse mesmo Espírito que fez com que o Cristo não tivesse
pecado algum. Deus teve a presciência de que faria tais coisas. Esta é, portanto, a
predestinação dos santos, aquela que refulge ao máximo no Santo dos santos. Quem
poderá negá-la se compreende com justeza as palavras da verdade? Pois foi-nos
ensinado que o próprio Senhor da glória, enquanto homem feito Filho de Deus, foi
predestinado.

Jesus foi predestinado: ele, que haveria de ser filho de Davi segundo a carne, haveria de
ser também, segundo a virtude, Filho de Deus segundo o Espírito de santidade, porque
nasceu do Espírito Santo e da Virgem Maria. É esta a singular assunção do homem pelo
Deus Verbo que se realizou de modo inefável, a fim de que o Filho de Deus e, ao
mesmo tempo, filho do homem, a saber, filho do homem por causa da humanidade
assumida e filho de Deus por causa daquele que assumia – fosse verdadeira e
propriamente dito o Deus unigênito. Que não acontecesse termos de crer numa
quaternidade e não na Trindade!

A natureza humana foi predestinada a tão imensa, sublime e máxima elevação que não
tem por onde mais se elevar, assim como a própria divindade não encontrou meios de se
rebaixar mais por nós do que aceitando a natureza do homem, com a fraqueza da carne,
até à morte da cruz. Assim como foi predestinado o Único para ser nossa Cabeça, assim
também, embora muitos, nós somos predestinados para sermos seus membros. Calem-se
aqui os méritos humanos, mortos por Adão, e reine aquela que reina, a graça de Deus
por Jesus Cristo, nosso Senhor, único Filho de Deus, um só Senhor. Quem quer que
encontre em nossa Cabeça méritos anteriores àquela singular geração, busque em nós,
seus membros, os méritos precedentes à múltipla regeneração.

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