segunda-feira, 16 de julho de 2012


REFLEXÃO PATRÍSTICA DIA 16/07/2012

Dos Sermões, de São Leão Magno, papa

(Sermo 1 In Nativitate Domini, 2.3:PL54,191-192) (Séc. V)

Maria concebeu primeiro em seu espírito,
e depois em seu corpo


Uma virgem da descendência real de Davi foi escolhida para a sagrada maternidade; iria
conceber um filho, Deus e homem, primeiro em seu espírito, e depois em seu corpo. E
para evitar que, desconhecendo o desígnio de Deus, ela se perturbasse perante efeitos
tão inesperados, ficou sabendo, no colóquio com o anjo, que era obra do Espírito Santo
o que nela se realizaria. Maria, pois, acreditou que, estando para ser em breve Mãe de
Deus, sua pureza não sofreria dano algum. Como duvidaria desta concepção tão
original, aquela a quem é prometida a eficácia do poder do Altíssimo? A sua fé e
confiança são ainda confirmadas pelo testemunho de um milagre anterior: a inesperada

fecundidade de Isabel. De fato, quem tornou uma estéril capaz de conceber, pode
também fazer com que uma virgem conceba.

Portanto, a Palavra de Deus, que é Deus, o Filho de Deus, que no princípio estava com
Deus, por quem tudo foi feito e sem ela nada se fez (cf. Jo 1,2-3), a fim de libertar o
homem da morte eterna, se fez homem. Desceu para assumir a nossa humildade, sem
diminuir a sua majestade. Permanecendo o que era e assumindo o que não era, uniu a
verdadeira condição de escravo à condição segundo a qual ele é igual a Deus; realizou
assim entre as duas naturezas uma aliança tão admirável que, nem a inferior foi
absorvida por esta glorificação, nem a superior foi diminuída por esta elevação.

Desta forma, conservando-se a perfeita propriedade das duas naturezas que subsistem
em uma só pessoa, a humildade é assumida pela majestade, a fraqueza pela força, a
mortalidade pela eternidade. Para pagar a dívida contraída pela nossa condição
pecadora, a natureza invulnerável uniu-se à natureza passível; e a realidade de
verdadeiro Deus e verdadeiro homem associa-se na única pessoa do Senhor. Por conseguinte, aquele que é um só mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5), como
exigia a nossa salvação, morreu segundo a natureza humana e ressuscitou segundo a
natureza divina. Com razão, pois, o nascimento do Salvador conservou intacta a
integridade virginal de sua mãe; ela salvaguardou a pureza, dando à luz a Verdade.

Tal era, caríssimos filhos, o nascimento que convinha a Cristo, poder e sabedoria de
Deus. Por este nascimento, ele é semelhante a nós pela sua humanidade, e superior a nós
pela sua divindade. De fato, se não fosse verdadeiro Deus, não nos traria o remédio; se
não fosse verdadeiro homem, não nos serviria de exemplo.

Por isso, quando o Senhor nasceu, os anjos cantaram cheios de alegria: Glória a Deus
no mais alto dos céus, e anunciaram paz na terra aos homens por ele amados (Lc 2,14).
Eles vêem, efetivamente, a Jerusalém celeste ser construída pelos povos do mundo
inteiro. Por tão inefável prodígio da bondade divina, qual não deve ser a alegria da
nossa humilde condição humana, se até os sublimes coros dos anjos se rejubilam?

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