HÁ AQUI UM LUGAR PARA NÓS, NESTA
MORADA?
“Maria Santíssima e S. José hão de depositar com alegria a Criancinha no presépio do nosso coração, os santos anjos adorarão o seu Deus, que no dia do Santo Natal virá ao nosso coração pela Santa Comunhão [...] e sentiremos a paz celeste que um dia os habitantes do Céu anunciaram nos prados de Belém”.
Serva
de Deus Madre Francisca Lechner - Fundadora da Congregação das Filhas do Amor
Divino.
Transportemo-nos para
Belém, quando César Augusto editou o primeiro recenseamento de todo o
território da jurisdição do Império Romano. É este o registro histórico que
situa o período do nascimento de Jesus Cristo.
Os pais de Jesus, para
atender à ordem do recenseamento, percorreram cerca de 150 km de Nazaré, na
Geliléia, até Belém, na Judéia, pois José era da descendência de Davi. Belém
era a cidade onde nasceu o Rei Davi (nascido entre 1010-970 a.C, conforme
Mannucci).
Maria, a esposa de
José, estava grávida e prestes a dar à luz. De fato, em Belém completaram-se os
dias da criança nascer. Mas, já não havia mais lugar para hospedar ninguém e ao
casal restou abrigar-se em um estábulo entre os animais. Foi aí que nasceu o
Senhor!
Pela falta de
acolhimento entre os homens, um cocho, foi o que restou para o Filho de Deus,
Aquele que se esvaziou de sua glória para vir habitar no meio de nós, o Emanuel
(Deus conosco). Então, o Messias tão esperado pelos antigos chegou ao mundo em
meio aos animais. Um acontecimento que ressoa fundo e nos faz pensar...
Não havia lugar para eles....
Nasceu Jesus! Maria
“deu à luz o seu filho primogênito e o enfaixou, e o reclinou numa manjedoura:
porque não havia lugar para eles na estalagem” (Lc 2,7). As palavras das Sagradas Escrituras soam-nos como uma
denúncia, alertando a Humanidade para os riscos do não acolhimento: o afastamento
de Deus para longe de nós! Parece uma acusação ao não acolhimento à primeira
vinda de Jesus, para não repetirmos a negativa de um espaço de acolhimento ao
Deus Peregrino na pessoa de um irmão e, consequentemente, à volta de Jesus no
fim dos Tempos. Cristo vem a nós no irmão (Mt 25, 34-46); vem a nós no último
dia da nossa existência e vem a nós definitivamente no fim dos Tempos. Por isso
no Advento clamamos: Maranata! – Vem,
Senhor Jesus, para a vitória final do
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, na realização do Céu (Ap 22, 1-5).
As páginas da Sagrada Escritura são pródigas em
relatar os benefícios do acolhimento ao hóspede e de dar abrigo ao peregrino.
Na atualidade há duas atitudes no mundo que evocam a mesma denúncia das
Escritura: “... não havia lugar para eles na estalagem”.
Uma atitude é a onda recorrente do não acolhimento à
vida intrauterina do nascituro e o alardeamento da propaganda abortista. Mais
grave: há mulheres, mães em potencial, a negar boas-vindas ao filho que
concebeu. Na mesma esteira da rejeição em admitir que o nascituro é vida
humana, causa-nos pavor tantas notícias de bebês abandonados pelas próprias
mães, a quem instintivamente competiria protegê-los. O absurdo da
irracionalidade domina o mundo!
Outra atitude é reação aberta de não boas-vindas aos
refugiados nas fronteiras dos países, agravando o estado de intolerância no
mundo. Trata-se de um problema que, não obstante requeira atenção maior devido
aos riscos de infiltração terroristas, no caso do extremismo islâmico, comove-nos
olhar para os rostos perplexos dos adultos e o semblante das crianças que mal
chegaram ao mundo, são expulsas do solo pátrio por situações que ainda não
compreendem.
Há algum lugar no mundo para nossas crianças?
É para as crianças que
queremos olhar neste Advento. Mas, antes de tudo, há uma criança, de quem não
podemos descuidar: aquela que somos nós mesmos. Urge recuperar a criança que
somos. Aquela criança, cujo nível de raciocínio tende à simplificação das
possibilidades graças a uma aguçada imaginação; aquela criança que é capaz de
se encantar. Nesse sentido a sociedade moderna também tomou de assalto crenças,
princípios e valores que levaram homens e mulheres de nosso tempo à perda do
sentido, que se manifesta no vazio interior e na fuga de si.
E hoje, há algum lugar para o Renascimento de Jesus?
Não satisfeito com a
negação da possibilidade de outros (crianças e migrantes) chegarem ao mundo ou
ao “meu território”, ainda nos deparamos, sob o ardiloso pretexto da laicidade,
com a tentativa de banir a lembrança de nossas origens cristãs. É o que ocorre
ao redor do mundo quando se propõe a retirada dos crucifixos dos espaços
públicos ou, da mesma forma, a proibição da exposição do Presépio natalino.
Trata-se de um projeto
de descristianização que está em curso, no qual se acredita que ignorando a
origem, nega-se tranquilamente a vinculação comum, isto é, a consequência de
ignorar Deus, é exatamente a tranquilidade de negar o vínculo de fraternidade
universal entre os homens, seja entre os contemporâneos, seja com as gerações
passadas e futuras.
O Natal cristão
significa exatamente isso: que Deus nos ama e é Pai de todos nós, desde as
gerações que nos antecederam até as que ainda hão de vir. Um cristão de verdade
jamais tentará inviabilizar a ação de Deus no mundo. E não tenhamos dúvida de
que o jeito de Deus se manifestar ainda passa pelos sinais de vida. Afinal, o
nascimento de uma criança foi condição, segundo a qual Deus mesmo veio ao mundo
pelo Mistério da Encarnação no ventre de Maria.
Ele já está à porta e bate... (Ap 3,20)
Que neste Advento – já
nas proximidades do nascimento de Jesus - não deixemos Maria e José sem
alojamento no nosso coração. Do contrário, perderemos a oportunidade de receber
Deus mesmo em nossa casa.
Preparemos um lugarzinho
especial na expectativa de sua chegada!
Vamos climatizar este
espaço, higienizar, providenciar o enxoval, o alimento e muito carinho, a fim
de que Ele encontre um lugar agradável e aí queira permanecer conosco.
Assim, a Verdade será a
luz que brilhará em nossa morada neste Natal.
Texto e organização de:
Ir. Aurélia Sotero Angelo FDC
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