segunda-feira, 5 de dezembro de 2016


HÁ AQUI UM LUGAR PARA NÓS, NESTA MORADA?
“Maria Santíssima e S. José hão de depositar com alegria a Criancinha no presépio do nosso coração, os santos anjos adorarão o seu Deus, que no dia do Santo Natal virá ao nosso coração pela Santa Comunhão [...] e sentiremos a paz celeste que um dia os habitantes do Céu anunciaram nos prados de Belém”.
Serva de Deus Madre Francisca Lechner - Fundadora da Congregação das Filhas do Amor Divino.

Transportemo-nos para Belém, quando César Augusto editou o primeiro recenseamento de todo o território da jurisdição do Império Romano. É este o registro histórico que situa o período do nascimento de Jesus Cristo.

Os pais de Jesus, para atender à ordem do recenseamento, percorreram cerca de 150 km de Nazaré, na Geliléia, até Belém, na Judéia, pois José era da descendência de Davi. Belém era a cidade onde nasceu o Rei Davi (nascido entre 1010-970 a.C, conforme Mannucci).

Maria, a esposa de José, estava grávida e prestes a dar à luz. De fato, em Belém completaram-se os dias da criança nascer. Mas, já não havia mais lugar para hospedar ninguém e ao casal restou abrigar-se em um estábulo entre os animais. Foi aí que nasceu o Senhor!

Pela falta de acolhimento entre os homens, um cocho, foi o que restou para o Filho de Deus, Aquele que se esvaziou de sua glória para vir habitar no meio de nós, o Emanuel (Deus conosco). Então, o Messias tão esperado pelos antigos chegou ao mundo em meio aos animais. Um acontecimento que ressoa fundo e nos faz pensar...

Não havia lugar para eles....

Nasceu Jesus! Maria “deu à luz o seu filho primogênito e o enfaixou, e o reclinou numa manjedoura: porque não havia lugar para eles na estalagem” (Lc 2,7). As palavras das Sagradas Escrituras soam-nos como uma denúncia, alertando a Humanidade para os riscos do não acolhimento: o afastamento de Deus para longe de nós! Parece uma acusação ao não acolhimento à primeira vinda de Jesus, para não repetirmos a negativa de um espaço de acolhimento ao Deus Peregrino na pessoa de um irmão e, consequentemente, à volta de Jesus no fim dos Tempos. Cristo vem a nós no irmão (Mt 25, 34-46); vem a nós no último dia da nossa existência e vem a nós definitivamente no fim dos Tempos. Por isso no Advento clamamos: Maranata! – Vem, Senhor Jesus, para a vitória final do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, na realização do Céu (Ap 22, 1-5).

As páginas da Sagrada Escritura são pródigas em relatar os benefícios do acolhimento ao hóspede e de dar abrigo ao peregrino. Na atualidade há duas atitudes no mundo que evocam a mesma denúncia das Escritura: “... não havia lugar para eles na estalagem”.

Uma atitude é a onda recorrente do não acolhimento à vida intrauterina do nascituro e o alardeamento da propaganda abortista. Mais grave: há mulheres, mães em potencial, a negar boas-vindas ao filho que concebeu. Na mesma esteira da rejeição em admitir que o nascituro é vida humana, causa-nos pavor tantas notícias de bebês abandonados pelas próprias mães, a quem instintivamente competiria protegê-los. O absurdo da irracionalidade domina o mundo!

Outra atitude é reação aberta de não boas-vindas aos refugiados nas fronteiras dos países, agravando o estado de intolerância no mundo. Trata-se de um problema que, não obstante requeira atenção maior devido aos riscos de infiltração terroristas, no caso do extremismo islâmico, comove-nos olhar para os rostos perplexos dos adultos e o semblante das crianças que mal chegaram ao mundo, são expulsas do solo pátrio por situações que ainda não compreendem.
 
Há algum lugar no mundo para nossas crianças?

É para as crianças que queremos olhar neste Advento. Mas, antes de tudo, há uma criança, de quem não podemos descuidar: aquela que somos nós mesmos. Urge recuperar a criança que somos. Aquela criança, cujo nível de raciocínio tende à simplificação das possibilidades graças a uma aguçada imaginação; aquela criança que é capaz de se encantar. Nesse sentido a sociedade moderna também tomou de assalto crenças, princípios e valores que levaram homens e mulheres de nosso tempo à perda do sentido, que se manifesta no vazio interior e na fuga de si.

E hoje, há algum lugar para o Renascimento de Jesus?

Não satisfeito com a negação da possibilidade de outros (crianças e migrantes) chegarem ao mundo ou ao “meu território”, ainda nos deparamos, sob o ardiloso pretexto da laicidade, com a tentativa de banir a lembrança de nossas origens cristãs. É o que ocorre ao redor do mundo quando se propõe a retirada dos crucifixos dos espaços públicos ou, da mesma forma, a proibição da exposição do Presépio natalino.

Trata-se de um projeto de descristianização que está em curso, no qual se acredita que ignorando a origem, nega-se tranquilamente a vinculação comum, isto é, a consequência de ignorar Deus, é exatamente a tranquilidade de negar o vínculo de fraternidade universal entre os homens, seja entre os contemporâneos, seja com as gerações passadas e futuras.

O Natal cristão significa exatamente isso: que Deus nos ama e é Pai de todos nós, desde as gerações que nos antecederam até as que ainda hão de vir. Um cristão de verdade jamais tentará inviabilizar a ação de Deus no mundo. E não tenhamos dúvida de que o jeito de Deus se manifestar ainda passa pelos sinais de vida. Afinal, o nascimento de uma criança foi condição, segundo a qual Deus mesmo veio ao mundo pelo Mistério da Encarnação no ventre de Maria.
 
Ele já está à porta e bate... (Ap 3,20)

Que neste Advento – já nas proximidades do nascimento de Jesus - não deixemos Maria e José sem alojamento no nosso coração. Do contrário, perderemos a oportunidade de receber Deus mesmo em nossa casa.

Preparemos um lugarzinho especial na expectativa de sua chegada!
Vamos climatizar este espaço, higienizar, providenciar o enxoval, o alimento e muito carinho, a fim de que Ele encontre um lugar agradável e aí queira permanecer conosco.

Assim, a Verdade será a luz que brilhará em nossa morada neste Natal.


Texto e organização de:
Ir. Aurélia Sotero Angelo FDC


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