"Melhor não crer do que ser um crente hipócrita", afirma o Papa
“Deus aprecia unicamente a fé professada com a
vida, porque o único extremismo admitido aos crentes é o da caridade. ” Francisco celebra a missa no Air Defence Stadium da
aeronáutica militar. Razões de segurança aconselharam uma área militar bem
protegida. Finalmente, ele pode passar em um carro descoberto e se aproximar
dos fiéis da pequena Igreja Copta
Católica, que chegaram a 30 mil, um número muito elevado, se considerarmos
que são apenas 0,3% da população egípcia.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 30-04-2017. A
tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Qualquer outro extremismo não vem de Deus e não
agrada a Ele! ” No estádio, há também fiéis muçulmanos e os coptas ortodoxos,
um sinal importante. Na sexta-feira, no seu primeiro dia no Cairo, Francisco tinha invocado uma “aliança” de todas as religiões
contra o fanatismo homicida. E agora concentra a homilia sobre a autenticidade
do sentimento religioso: “A verdadeira fé é aquela que nos leva a proteger os
direitos dos outros com a mesma força e o mesmo entusiasmo com que defendemos
os nossos”. Até exclamar: “Para Deus, é melhor não crer do que ser um falso
crente, um hipócrita”.
O testemunho - Um tempo esplêndido, sol e vento seco do deserto. A
missa é em latim e em árabe. Para os católicos egípcios, é um dia memorável: “É
o dia mais bonito da minha vida. Que o papa traga a paz ao Egito”,
diz uma senhora comovida. Na sexta à noite, na nunciatura, onde ele descansou,
ele tinha cumprimentado 300 jovens peregrinos que chegaram de todo o país:
“Vocês são corajosos”.
É a essas pessoas e ao seu testemunho exemplar que Francisco se dirige, mas as
palavras das Bem-aventuranças falam
para todas as religiões: “A verdadeira fé é aquela que nos torna mais
caridosos, mais misericordiosos, mais honestos e mais humanos; é aquela que
anima os corações para levá-los a amar a todos gratuitamente, sem distinção e
sem preferências; é aquela que nos leva a ver no outro não um inimigo a
derrotar, mas um irmão a amar, a servir e a ajudar; é aquela que nos leva a
difundir, a defender e a viver a cultura do encontro, do diálogo, do respeito e
da fraternidade; leva-nos à coragem de perdoar quem nos ofende, a dar uma mão a
quem caiu; a vestir quem está nu, a saciar o faminto, a visitar o encarcerado,
a ajudar o órfão, a dar de beber ao sedento, a socorrer o idoso e o
necessitado”.
“Deus detesta a hipocrisia” - Francisco fala em italiano. Um intérprete traduz frase
por frase em árabe. A leitura do dia é o relato dos discípulos de Emaús. “Na escuridão da noite mais
escura, no desespero mais chocante, Jesus se aproxima deles e transforma o seu
desespero em vida, porque, quando desaparece a esperança humana, começa a
brilhar a divina. ”
A experiência deles, explica o papa, “nos ensina
que não adianta encher os lugares de culto, se os nossos corações estão
esvaziados do temor de Deus e da Sua presença; não adianta rezar, se a nossa
oração dirigida a Deus não se transforma em amor dirigido ao irmão; não adianta
tanta religiosidade se ela não for animada por muita fé e por muita caridade;
não adianta cuidar da aparência, porque Deus olha para a alma e o coração, e
detesta a hipocrisia”.
A despedida - A despedida aos fiéis egípcios foi no sábado:
“Agora, como os discípulos de Emaús,
voltem para a Jerusalém de
vocês, isto é, para a sua vida cotidiana, para as suas famílias, para o seu
trabalho e para a sua cara pátria repletos de alegria, de coragem e de fé. Não
tenham medo de abrir o coração de vocês à luz do Ressuscitado e deixem que Ele
transforme a incerteza de vocês em força positiva para vocês e para os outros.
Não tenham medo de amar a todos, amigos e inimigos, porque, no amor vivido,
está a força e o tesouro de quem crê! ”.
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